Folha de S. Paulo


Índios insatisfeitos com remoção fazem feira-protesto no Rio

Parte dos índios que foram removidos no final de março do antigo Museu do Índio, local conhecido com Aldeia Maracanã por estar próxima ao famoso estádio, voltaram no final da tarde de hoje (7) para fazer um protesto pacífico no local.

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De acordo com a Polícia Militar, por volta das 17h, cerca de 40 índios instalaram uma feira de artesanato em frente à ex-Aldeia Maracanã. O 4º Batalhão enviou duas viaturas para garantir a tranquilidade e evitar uma nova invasão no prédio, que segundo o governo estadual será transformado em um museu olímpico.

De acordo com o ex-presidente da Associação da Aldeia Maracanã, Afonso Apurinã, o movimento de ocupação do antigo Museu do Índio se dividiu após a expulsão, no final de março. Parte dos índios que se recusou a ir para o alojamento em Jacarepaguá, em uma antiga colônia de tratamento da hanseníase, onde Apurinã está morando.

"Uma parte aceitou e outra não, continuam lutando, e resolveram fazer um protesto hoje com essa feira de artesanato, mas sem briga", disse Apurinã à Folha.

Ele disse não acreditar que os índios tentarão invadir novamente o prédio, até porque o aparato policial foi reforçado hoje para evitar novas invasões.

Segundo Apurinã, as condições fornecidas pelo governo aos índios que aceitaram ir para Jacarepaguá ainda são precárias e a alimentação se restringe a arroz e feijão. "Nós damos nosso jeito e compramos mistura, mas o governo só está mandando o básico".

Dias após a expulsão, o juiz Renato Cesar Pessanha de Souza, da 8ª Vara Federal, determinou o prazo de 24 horas para o que a Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Assistência Social melhore as condições de moradia dos índios em Jacarepaguá, fornecendo proteína "que contemple as proteínas necessárias ao bom funcionamento do organismo humano".

REMOÇÃO

A aldeia Maracanã foi desocupada na manhã do dia 22, com a presença Batalhão de Choque da Polícia Militar. As crianças e idosos já tinham sido retirados pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos quando a polícia invadiu o local. Sete manifestantes foram presos.

Homens do Choque empurraram os índios para fora na propriedade. Eles também usaram spray de gás pimenta e bombas de efeito moral. O coronel Frederico Caldas, relações públicas da PM, informou que 200 policiais participaram da ação, entre homens do Bope, do Batalhão de Choque e do 4º Batalhão da PM.

Durante a invasão da polícia, manifestantes fecharam uma pista da Radial Oeste, no sentido leste. Quatro bombas de efeito moral foram detonadas para dispersar os manifestantes que ocupavam a avenida. Um índio ficou ferido e precisou de atendimento médico. (DENISE LUNA)


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