Folha de S. Paulo


Tese de que 'bandido bom é bandido morto' pode afetar júri do Carandiru, diz promotor

O julgamento do Massacre do Carandiru, marcado para começar na próxima segunda-feira, terá como principal desafio um "problema ideológico", na opinião dos promotores do caso Fernando Pereira da Silva e Márcio Augusto Friggi de Carvalho. O crime ocorreu em outubro de 1992.

"Infelizmente, muita gente ainda pensa que bandido bom é bandido morto", afirmou Carvalho, hoje, durante uma coletiva de imprensa se referindo aos 111 presos mortos na penitenciária após uma rebelião. Ao todo, 84 policiais são acusados do crime.

Para os promotores, há o risco de os jurados tomarem as decisões influenciados por essa ideologia, e não pelas provas do processo.

A previsão é de que o júri, marcado para às 9h no Fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), dure entre uma e duas semanas, sem interrupções.

Os sete jurados sorteados para julgar o caso terão que ficar sem comunicação até o final do julgamento, sem acesso a TV, jornais ou telefonemas.

O julgamento do caso foi desmembrado em cinco partes, devido à grande quantidade de réus (84 policiais) e de vítimas (111 mortos).

Na próxima segunda começa a primeira delas. Vão à júri 26 policiais, acusados pelo Ministério Público de matar 15 presos no primeiro andar (segundo pavimento) do Pavilhão 9 em 2 de outubro de 1992. Dois policiais que seriam julgados nesta fase morreram.

Outro desafio dos promotores será o de individualizar a conduta dos réus: ou seja, dizer quem teria atirado em quem.

Para a advogada de todos os 26 policiais, Ieda Ribeiro de Souza, não há prova nos autos de que eles atiraram. O exame de balística nas armas dos PMs apreendidas não seria possível, segundo o Instituto de Criminalística. Na época do crime, não havia tecnologia disponível para processar o material.

Para os promotores, no entanto, não há necessidade de individualizar as condutas. "Todos os réus concorreram para os homicídios, há provas disso", disse Carvalho. Ele, no entanto, não quis adiantar quais delas serão expostas aos jurados.


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