Folha de S. Paulo


Dois bombeiros são suspeitos de fraudar prova após incêndio na Kiss

Dois dos 16 indiciados pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul no incêndio da boate Kiss são bombeiros suspeitos de, após a tragédia, alterar provas relativas às licenças da casa noturna. O delegado Marcelo Arigony, que comandou a investigação, considerou que houve "fraude processual".

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Os suspeitos são o major Gerson da Rosa Pereira e o sargento Renan Severo Berleze. "Tivemos indícios nos autos, confirmados, de que alguns documentos que não estavam com os bombeiros foram inclusive autenticados e colocados, inseridos [nos arquivos de licenças da boate]", disse o delegado.

A Folha procurou em Porto Alegre o comando dos Bombeiros, que afirmou, por meio de sua assessoria, que ainda está se informando sobre as conclusões do inquérito.

A polícia considerou que outros bombeiros também agiram de maneira indevida no caso, mas decidiu remeter esses termos do inquérito ao Tribunal da Justiça Militar, responsável por julgar crimes relativos à corporação no Rio Grande do Sul.

INQUÉRITO

O anúncio dos resultados da investigação ocorreu na tarde desta sexta-feira (22) em um auditório da Universidade Federal de Santa Maria. O ato tem acesso restrito à imprensa, mas familiares de vítimas foram à frente do prédio protestar por punições com cartazes.

Apesar de apenas 16 serem indiciados, a polícia concluiu que há a responsabilidade de 28 pessoas, incluindo o prefeito Cezar Schirmer (PMDB), que não foi indiciado devido ao foro privilegiado. O inquérito será remetido ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul para que seja avaliado o envolvimento do prefeito.

A investigação começou em 27 de janeiro, o dia do incêndio, e teve a sua conclusão adiada em diversas ocasiões. É possível que a polícia inicie novos inquéritos para apurar questões que acabaram de fora desta etapa. Centenas de pessoas foram ouvidas, incluindo sobreviventes, fiscais do município, o prefeito Cezar Schirmer (PMDB) e bombeiros.

A íntegra do inquérito soma 52 volumes e 13 mil páginas. Um vídeo obtido do celular de uma das vítimas mostrando o início do incêndio foi exibido na apresentação pela Polícia Civil.

Editoria de Arte/Folhapress
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INCÊNDIO

O incêndio ocorreu no dia 27 de janeiro e provocou 241 mortes. Centenas de sobreviventes ficaram feridos, incluindo cerca de 140 que precisaram ser hospitalizados.

O fogo começou por volta das 3h, quando um integrante da banda Gurizada Fandangueira, que fazia um show no local, acendeu um artefato pirotécnico. Faíscas atingiram uma espuma usada como revestimento acústico, que começou a queimar. Uma espessa fumaça preta tomou conta de todo o ambiente da casa noturna em poucos minutos, intoxicando os frequentadores.

Desde o dia seguinte à tragédia, estão presos os sócios da boate Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o vocalista da banda Marcelo Jesus dos Santos e o produtor Luciano Bonilha Leão.

O inquérito será levado ao Ministério Público, que vai analisar as provas e decidir se denuncia (acusa formalmente) os suspeitos à Justiça. (FELIPE BÄCHTOLD)

Veja a lista de indiciados:

Indiciados sob suspeita de homicídio doloso qualificado:

- Marcelo de Jesus dos Santos - vocalista da banda Gurizada Fandangueira
- Luciano Augusto Bonilha Leão - produtor
- Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) - sócio da boate Kiss
- Mauro Londero Hoffman - sócio da boate Kiss
- Ricardo de Castro Pasche - gerente da boate
- Ângela Aurelia Callegaro - irmã de Kiko
- Marlene Teresinha Callegaro - mãe de Kiko

Indiciados sob suspeita de homicídio com dolo eventual:

- Gilson Martins Dias - bombeiro que vistoriou a boate antes do incêndio
- Vagner Guimarães Coelho - bombeiro que vistoriou a boate antes do incêndio

Indiciados sob suspeita de homicídio culposo:

- Miguel Caetano Passini - secretário de Mobilidade Urbana de Santa Maria
- Luiz Alberto Carvalho Júnior - secretário de Meio Ambiente de Santa Maria
- Beloyannes Orengo de Pietro Júnior - chefe da fiscalização da pasta de Mobilidade Urbana
- Marcus Vinícius Bittencourt Biermann - funcionário da secretaria de Finanças que deu o alvará de localização da boate

Indiciados sob suspeita de fraude processual (alterar provas):

- Gerson da Rosa Pereira - bombeiro; segundo a polícia, ele incluiu documentos na pasta referente ao alvará da boate
- Renan Severo Berleza - bombeiro; segundo a polícia, ele incluiu documentos na pasta referente ao alvará da boate

Indiciado sob suspeita de falso testemunho:

- Elton Cristiano Uroda - ex-dono da boate Kiss


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