Folha de S. Paulo


Para pesquisadora, mortes de mulheres no ES são 'anunciadas'

Casos de violência doméstica e familiar são "mortes anunciadas", avalia a professora Vanda Valadão, do Núcleo de Estudos de Violência e Segurança Pública da Universidade Federal da Espírito Santo.

Solto após fiança, pedreiro mata ex e assusta família de vítima
'Ele tentou me jogar da janela', diz vítima de violência doméstica

"Existem condições de se antecipar [ao crime] que não são utilizadas devidamente", afirma.

"O poder público conhece, sabe, mas não desenvolveu instrumento para fazer o que na assistência social se chama 'busca ativa' [das mulheres]. A vítima acaba tendo que buscar ajuda, e, por ser tão recorrente na delegacia, é transformada num estorvo", diz.

Pesquisas mostram, segundo Valadão, que mulheres sob ameaça apresentam sinais físicos de que algo está errado, como obesidade, dor crônica, distúrbios gastrointestinais e abortos espontâneos, além de fumarem e beberem mais.

PERFIL DAS VÍTIMAS

Em 2010 e 2011, o Núcleo de Estudos de Violência entrevistou 152 mulheres internadas na Casa Abrigo mantida pelo governo do Espírito Santo para vítimas de parceiros agressores.

A maioria se declarou solteira, mas vivendo relação com parceiro; primeiro grau incompleto; 58% tinham entre 18 e 29 anos; 41% tinham trabalho regular quando foram abrigadas; e a grande maioria recebia algum benefício social, como o Bolsa Família.

"Descobrimos que as mulheres procuravam a delegacia com frequência, que nem sempre eram bem tratadas, e até que fossem levadas a sério precisavam mostrar sinais muito visíveis [sangue, olho roxo], pela insensibilidade [dos agentes do Estado] em relação aos tipos de dano que sofre uma mulher", afirma. (REYNALDO TUROLLO JR.)


Endereço da página:

Links no texto: