Folha de S. Paulo


Grupos fantasiados chamam a atenção no Cordão do Boitatá, no Rio

No "Cordão do Boitatá", um dos mais tradicionais blocos do Carnaval de rua do Rio de Janeiro, ir fantasiado é quase obrigatório. Não importa se o traje é improvisado ou elaborado. Basta apenas que a pessoa incorpore um personagem e caia na folia. O Boitatá começou às 9h de hoje (10) na praça 15, centro do Rio.

Veja a cobertura completa do Carnaval
Está pulando o Carnaval? Mande seu relato!
Fotografe com Instagram sua folia e envie para Folha
Marchinhas tradicionais embalam o Cordão do Boitatá no Rio; veja
Após tumulto no Bola Preta, Riotur vai pedir à PM para evitar carros nos blocos
Patrocinada por criadores de cavalo, Beija-Flor homenageia mangalarga

As fantasias mais originais rendem muita interação e pedidos de fotos. Um grupo de 12 pessoas que estava vestido do quadro espanhol "ecce homo" era um dos que rendia muitas risadas. A obra, que ficou famosa no ano passado após uma restauração fracassada de um afresco de Cristo, serviu de inspiração para a dematologista Samantha Talarico, 31, e seus amigos.

"Ontem nós saímos de mesa de sinuca e hoje viemos de ecce homo. Quanto mais engraçada e original a fantasia for, melhor", disse ela que vestia, além da máscara feita de papelão, uma bata marrom no estilo dos freis franciscanos, só que um pouco mais curta.

Outros que faziam muito sucesso eram os cinco "Caça Fantasmas". O professor de arte Leonardo Garcia, 39, usou materias reciclados e muita criatividade para compor o equipamento que ficou muito parecido com o do clássico filme de 1984. Uma mochila de madeira, com peças de computador, mangueiras e outros materiais compunha o traje. Enquanto conversava com a reportagem, o grupo foi parado três vezes para posar para fotos com outros foliões.

"Tem gente que nos confunde com dedetizadores ou algo do gênero, mas a maioria identifica na hora os Ghostbusters. Muitas crianças, que nasceram depois do filme, perguntam para os pais quem nós somos e eles cantam a música do filme. É muito divertido", disse ele.

FREDDIE MERCURY

Um dos que interrompeu a entrevista para pedir uma foto para Os Caças Fantasmas foi o contador Sérgio Lima, 25. Fantasiado de Freddie Mercury, o líder da banda Queen, ele era outro que arrancava gargalhadas por conta da fidelidade do traje. De calça legging branca, um bigode cultivado por semanas e uma dentadura projetada para frente, Sérgio passava fazendo as tradicionais poses do ídolo pop da década de 1980.

Em determinado momento, Sérgio subiu as escadarias do Palácio Tiradentes, que fica bem próximo à praça 15, e comandou uma multidão com sucessos como "We will rock you" e "We are the champions".

"Foi engraçado que as pessoas embarcaram na brincadeira e cantaram junto comigo. No Carnaval é preciso incorporar um personagem", disse ele.

O mais difícil para um folião é colocar a ideia original em prática. Três amigos cortavam a multidão fantasiados do filme "Jamaica a baixo de zero", de 1993, que conta a história da equipe de trenó no gelo do país de Bob Marley. Com camisas e capacetes da Jamaica, os três "viajavam" dentro de um trenó feito de PVC e adesivo do tipo contact.

O mestrando em administração Leonardo Sertã, 30, diz que há três anos o grupo pensava em sair com a fantasia, mas só neste Carnaval consegui colocar a ideia em prática. "Difícil é quando um de nós precisa ir ao banheiro ou paquerar alguma mulher. Por isso trouxemos um 'reserva'", disse Sertã, apontando para um quarto amigo que assume a posição de quem tiver que "deixar" o trenó.

CLEÓPATRAS

Bem próximo dali, 12 cleópatras dançavam animadas. Chamava atenção no grupo de meninas dois homens de mais de um metro e oitenta de altura com o mesmo traje. A fantasia, composta por um vestido verde com detalhes em preto e dourado, uma peruca e a tradicional maquiagem no canto dos olhos, era bem orginial. O grupo agradece à mãe da professora de história Luana Ramos, 26, que costurou os 12 trajes.

"Todo ano nosso grupo de amigas sai de fantasia em conjunto e sempre temos dois ou três amigos que embarcam na brincadeira", disse ela.

Há quem prefira uma fantasia individual. É o caso do publicitário paulista Ricardo Salgado, 27. Empertigado em um vestido rosa, ele carregava uma placa com os dizeres: "me paga uma cerveja que eu te dou um salgado". Ele afirma que em dois de Carnaval a fantasia já lhe rendeu sete cervejas grátis e muita interação. "O objetivo do Carnaval é dar risada. É muito legal poder paquerar as mulheres vestido num traje ridículo", diverte-se ele.

Uma das fantasias da moda do Carnaval do Rio é a da pintora mexicana Frida Kahlo. Ostentando a tradicional "monocelha" da artista, a bióloga Mariana Zaluar, 25, se dirvertia com as marchinhas. Ela conta que decidiu sair de Frida, com monocelha, flor no cabelo e um vestido florido, depois de ter visto uma foliã com a fantasia. "Eu peguei a ideia e decidi compor a minha própria Frida", disse ela.

Quem acompanhava o bloco cruzava com um casal de "Galinha Pintadinha", o desenho infantil que é sucesso de visualizações no youtube. A analista de recursos humanos Mariana Rodrigues, 31, costurou a sua fantasia e a de seu namorado, o economista Felipe Carreira, 28. O traje era um vestido azul e um chapéu com o rosto da personagem. O casal decidiu celebrar um ano de namoro curtindo o bloco fantasiado.

"Completamos um ano no último dia oito. Como a minha afilhada é louca pela Galinha Pintadinha, tive a ideia de fazer a fantasia. Gastamos R$ 100 nos tecidos e estamos aproveitando bastante", explica Mariana.


Endereço da página:

Links no texto: