Folha de S. Paulo


'Se soubesse, não deixaria', diz dono da Kiss sobre show pirotécnico

O empresário Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da boate Kiss, negou que a banda Gurizada Fandangueira já tivesse usado fogos em seus shows. A entrevista foi divulgada pelo "Fantástico", da Rede Globo, na noite deste domingo (3).

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"A banda nunca falou comigo sobre isso [show pirotécnico]. Eu nunca autorizei isso. Faz dois anos, eu acho, que a banda toca lá [na Kiss]. Eu vi no mínimo 30 shows deles. Nunca fizeram isso, nem na Kiss. Vi shows deles em outros lugares, eles também nunca usaram isso. Se eu soubesse que iam usar, não deixaria", afirmou.

O empresário ainda afirmou que, no dia do incêndio, cerca de 700 pessoas participavam da festa na boate. O advogado de Spohr, Jader Marques, afirmou que o cliente não sabia qual era a capacidade máxima de pessoas na casa noturna. "Ele nunca recebeu dos bombeiros, da prefeitura ou de quem quer que seja uma limitação quanto ao número de pessoas da casa", afirmou.

Em depoimento à polícia, o produtor da Gurizada Fandangueira --que também está detido-- afirmou que os espetáculos pirotécnicos eram o "diferencial" da banda.

Luciano Bonilha Leão disse ainda que o grupo já havia promovido outros dois espetáculos com fogos durante apresentações na boate Kiss, o que contradiz depoimento do sócio da casa noturna Elissandro Spohr.

Reportagem da Folha ainda revelou que Kiko usava fogos de artifício nos shows que sua banda, Projeto Pantana, fazia na boate. A informação constava do blog do grupo (www.projetopantana.blogspot.com.br/ ), em um texto intitulado "Kiss em chamas" --o blog não está mais disponível.

Em 26 de outubro, Kiko e a banda gravaram na boate a parte final do videoclipe na boate. No blog, eles afirmam, mais de uma vez, que usaram fogos no palco. "Calor e suor muito acima da média. Nós colocamos fogo na Kiss, mas quem incinerou mesmo foi Sandrinho. Quase queimou o cabelo duma (sic) galera na frente do palco", diz o texto.

SEGURANÇA

Ainda de acordo com a entrevista, Kiko pediu para que as portas da boate fossem abertas quando percebeu o incêndio. "Quando vi que a coisa era séria já saí gritando 'abre, abre'. Mas as pessoas, ao invés de saírem, ficaram na frente da boate, atrapalhando a saída dos outros."

"Quando eu entrei como sócio na boate, a boate já estava funcionando com o alvará dos bombeiros. Uma vez, durante uma vistoria, falaram que as minhas portas, que eram aquelas de incêndio com a barra que você aperta para baixo, estavam ultrapassadas. Os bombeiros então me indicaram uma empresa chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles, que fazia todo o sistema operacional para mim", afirmou o empresário.

Kiko ainda confirmou que a boate funcionou, ao menos por um período, sem o alvará. "Veio uma notificação [do vencimento] e imediatamente pedi ao meu cunhado e à minha irmã que dessem uma força com a papelada".

O empresário afirmou também que chamou um engenheiro, identificado apenas como Pedroso, para tentar resolver os problemas de acústica da casa. "As opções eram gesso ou espuma. A espuma eu achava horrível, muito feio, aí optei por gesso. Mas continuou o barulho. Eu voltei a chamar o Pedroso para trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou espuma e madeira por cima. Concreto. E aí, por fim, espuma. Eles queriam que eu botasse espuma em toda a boate. Mas até que não precisou".

O engenheiro Miguel Angelo Pedroso negou ter aconselhado o uso de espuma de borracha em qualquer projeto ou laudo de acústica.

PRESO

Elissandro Spohr, detido em um hospital particular na cidade gaúcha de Cruz Alta, deve receber alta nesta segunda-feira (4) e em seguida será levado a uma prisão.

Ele permanece internado desde o dia da tragédia porque, segundo os médicos, havia inalado fumaça tóxica e estava muito abalado com o incêndio, que matou 237 pessoas.

O médico responsável pelo tratamento, Paulo Viecili, disse neste domingo (3) à Folha que uma avaliação feita por um psiquiatra apontou que não há indicação de transferência para um hospital psiquiátrico.

Spohr teve a prisão decretada na última segunda-feira, mas, como já estava internado no dia da tragédia, acabou permanecendo no hospital, vigiado por policiais dentro do quarto.

Segundo o médico, Spohr continua bastante abatido com a tragédia e chora muito. Mas o médico afirma que a avaliação psiquiátrica afastou um "risco iminente".

A Polícia Civil gaúcha chegou a divulgar que Spohr preparou uma tentativa de suicídio com uma mangueira de chuveiro na última terça-feira (29), que foi abortada por policiais que o vigiavam.

Editoria de Arte/Folhapress
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