Folha de S. Paulo


Defesa de sócio da Kiss aponta 'fúria irracional' na investigação do incêndio

Responsável pela defesa de Mauro Hoffmann, um dos sócios da boate Kiss preso desde segunda-feira, o advogado Mário Cipriani chamou ontem de "fúria irracional" a investigação policial e disse que chegou a hora de a Prefeitura de Santa Maria e o Corpo de Bombeiros "assumirem" suas responsabilidades.

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"Nos causa muita, muita estranheza isso que parece uma fúria irracional nas investigações. Isso não pode existir naquilo que se pretende ser uma investigação isenta", afirmou, por telefone, antes de entrar na penitenciária de Santa Maria para visitar seu cliente.

Cipriani atendeu à ligação minutos depois de ser informado sobre a decisão da Justiça de prorrogar por mais 30 dias a prisão de Hoffmann, do outro sócio da Kiss, Elissandro Spohr, e de Luciano Bonilha e Marcelo Jesus dos Santos, ambos da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na boate na noite da tragédia.

Segundo ele, a polícia tem sido dura com os sócios, enquanto "preserva os outros".

Adriano Vizoni/Folhapress
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"Por que o Ministério Público não voltou [à boate] para fazer uma vistoria? Prefeitura e bombeiros também precisam assumir [suas responsabilidades] e não empurrá-las para os bodes expiatórios", disse, numa referência aos sócios e músicos presos.

Sobre a prorrogação da prisão, ele disse que foi "surpreendido". "Foi uma medida desnecessária, já que estamos colaborando em todos os momentos com a investigação."

Cipriani criticou a decisão. "[O incêndio] foi uma comoção, isso é inegável. Estamos todos comovidos, mas isso não faz parte do sistema jurídico. [O incêndio] foi uma fatalidade, foi um acidente."

Ao contrário do que funcionários relataram à polícia, a defesa alega que Hoffmann tinha apenas papel de investidor na boate, e não atribuições com a gerência.

Isso, de acordo com Cipriani, caberia a Elissandro Spohr, o outro sócio da Kiss, detido em um hospital na cidade de Cruz Alta, onde está internado. Spohr estava na boate no dia do incêndio.

O advogado diz estranhar o fato de a prorrogação ter sido decidida por um juiz de plantão. "Seria muito mais adequado ter aguardado o retorno do juiz criminal."

A decisão do juiz Régis Bertolini de prorrogar as prisões atendeu a pedido da Polícia Civil, com o aval do Ministério Público. Ele apontou risco de fuga e de influência dos suspeitos sobre testemunhas.

Para o juiz, após ouvidas mais de 60 testemunhas no inquérito, há "indícios suficientes" da prática, pelos suspeitos, de homicídio por dolo eventual --quando se assume o risco de matar.

Editoria de Arte/Folhapress

INCÊNDIO

O incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 236 pessoas morreram e outras 119 permanecem internadas.

O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.

Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.

A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.

No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.

A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.

A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".

Editoria de Arte/Folhapress
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