Folha de S. Paulo


Sócios e músicos sabiam de risco de incêndio na Kiss, afirma polícia

No sexto dia de investigações, a Polícia Civil gaúcha concluiu que houve "dolo eventual" na tragédia que matou 236 pessoas na boate Kiss, na madrugada de domingo (27).

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Ainda faltam laudos periciais para confirmar as causas do acidente --que, para os policiais, estão bem definidas--, mas já foram tomados 72 depoimentos.

"A polícia já tem uma ideia formatada de que as pessoas que estão presas agiram, de muitas maneiras, assumindo um risco de produzir dano", o que caracteriza o dolo eventual, disse o delegado Sandro Meiners.

Estão presos desde segunda-feira (28) Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, donos da boate, Marcelo de Jesus Santos e Luciano Bonilha, cantor e produtor da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava quando o incêndio começou.

Ontem, a Justiça atendeu ao pedido da polícia e prorrogou por mais 30 dias a prisão temporária dos quatro.

No final da tarde, policiais civis cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa de Spohr, um dos sócios. O delegado disse que a polícia procurava documentos, mas não revelou quais.

DOLO

Segundo as investigações, o fogo começou quando faíscas de um sinalizador usado pelo vocalista do grupo atingiu a espuma de revestimento do teto da boate.

A espuma, altamente inflamável, foi instalada pelos donos da boate, segundo a polícia, mas não poderia ter sido usada daquele modo. Já o artefato pirotécnico usado pela banda era indicado para uso em áreas abertas e, mesmo sabendo disso, os músicos o lançaram dentro da boate.

A polícia não descarta indiciar mais pessoas como responsáveis pela tragédia. Também afirma que vai investigar as responsabilidades dos agentes públicos que deveriam ter fiscalizado o local.

O alvará do Corpo do Bombeiros da Kiss estava vencido desde agosto de 2012. Esse documento requer, para ser renovado, vistorias anuais, para verificar que o ambiente está em conformidade com as normas de segurança.

O alvará dos bombeiros é pré-requisito para que a boate tenha alvará de funcionamento, expedido pela prefeitura.

EXTINTORES

A Polícia Civil afirmou que encontrou apenas três extintores no prédio da boate Kiss. Há suspeitas de que havia equipamentos em número insuficiente e de que ao menos um deles não funcionava.

Integrantes da banda e um segurança disseram à polícia que tentaram apagar o fogo logo no início, mas que o extintor usado não funcionou. Os equipamentos foram para a perícia.

A polícia vai analisar as normas de segurança vigentes em Santa Maria para estabelecer quantos extintores a casa precisava ter. Há dúvidas sobre as normas porque há leis que são municipais e outras que são estaduais, todas em vigor.

A boate Kiss tem, aproximadamente, 615 metros quadrados.

INCÊNDIO

O incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 236 pessoas morreram e outras 119 permanecem internadas.

O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.

Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.

Editoria de Arte/Folhapress

A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.

No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.

A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.

A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".

Editoria de Arte/Folhapress
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