Folha de S. Paulo


Haddad diz que vai facilitar acesso a dados da saúde pública

O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou ontem que pretende tornar os dados da fila da saúde públicos, junto a todas as outras informações municipais. "Não queremos nada difícil de acessar", disse ele.

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As declarações foram dadas após reportagem publicada pela Folha ontem, que pedia os dados de fila na saúde há sete meses para a administração e só os conseguiu ao recorrer à Lei de Acesso à Informação.

O anúncio foi feito durante apresentação no Controlador-Geral do Município, Mario Vinicius Spinelli, que terá a função de combater a corrupção na prefeitura.

Januario Montone, secretário da Saúde da gestão Gilberto Kassab (PSD) afirmou ontem, em nota, que a dificuldade em obter a informação não se deveu "à falta de transparência, mas ao fato de que a informação não estar disponível ao gestor".

Vinicius Pereira/Folhapress
Fila de pacientes na frente da UBS Malta Cardoso, na região do Rio Pequeno, zona oeste de SP
Fila de pacientes na frente da UBS Malta Cardoso, na região do Rio Pequeno, zona oeste de SP

Segundo ele, a gestão Kassab realizou, em 2011, 26 milhões de consultas, 43,7 milhões de procedimentos diagnósticos e 241 mil internações.

O prefeito também afirmou ontem que vai firmar convênios com consultórios e centros cirúrgicos particulares para tentar reduzir a fila de espera na rede municipal de saúde.

Como a reportagem da Folha mostrou, 661 mil pedidos de consultas, exames e cirurgias estão na fila do serviço médico da prefeitura --os dados são de outubro de 2012.

Alguns procedimentos, como um eletroneuromiograma (que diagnostica problemas em músculos e nervos), podem demorar até 35 meses para serem feitos. Uma ultrassonografia transvaginal, que detecta câncer de ovário, tinha 72.517 pedidos na fila e demora de seis meses.

O prefeito afirmou que as parcerias serão emergenciais. Elas serão feitas com verba de um programa do Ministério da Saúde para reduzir filas de espera, cerca de R$ 90 milhões para todo o Estado --ele não soube informar, no entanto, quanto desse dinheiro viria para o município.

A Secretaria da Saúde afirmou que não poderia passar os detalhes do projeto ainda nem dizer quando ele será implementado porque o plano está sendo formatado.

Editoria de arte/Folhapress

Segundo Haddad, a ideia é que a medida funcione até que a Rede Hora Certa, projeto que prevê a implementação de 31 unidades de saúde para realizar até pequenas cirurgias, seja implementado. Ainda não há prazo.

Para o professor do departamento de Medicina Preventiva da USP, Mário Scheffer, a proposta é uma "surpresa". Segundo ele, há risco de usuários do SUS serem tratados de forma pior do que os pacientes particulares na rede privada, já que o valor repassado pela prefeitura para os atendimentos seria menor.

Para Antônio Carlos Lima, conselheiro municipal de saúde e diretor do sindicato dos servidores municipais, medidas "paliativas" como essas não são ideais. Melhor seria investir em projetos permanentes rapidamente.

Já Yussif Ali Mere Junior, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de SP diz que a parceria com as entidades privadas é uma boa solução para solucionar o problema das filas e que a rede privada teria condições de realizá-la.

CONVÊNIO

Desde novembro o Ministério da Saúde fala em contratar clínicas privadas para atender uma demanda de mais de 4 milhões de consultas e exames oftalmológicos, com foco inicial no projeto Olhar Brasil, que atende estudantes da rede pública.

Segundo o órgão, o programa está recebendo inscrições de prestadores de serviços que queiram trabalhar com o SUS. (TALITA BEDINELLI E EVANDRO SPINELLI)


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