Folha de S. Paulo


Prefeitura reduz ação e pernilongos invadem zona oeste de SP

A dona de casa Márcia Franco, 40, exibe os braços com marcas vermelhas, causadas pela coceira de picadas de pernilongos. "Está insuportável. Um absurdo."

Análise: Rio Pinheiros é um criadouro ideal para pernilongo

Moradora de Pinheiros, na zona oeste, ela reclama da quantidade de insetos que invadiu o bairro no final de 2012. Dezembro teve temperaturas acima da média e o calor acelera o ciclo biológico dos pernilongos e sua proliferação.

A filha de Márcia, Manuela, de 1 ano e sete meses, exibe uma bolha nas pernas --alergia provocada pela "gula" dos mosquitos.

No Butantã, também na zona oeste, a família da estudante Vera Pizzo de Almeida, 11, saiu às compras há dois meses: levaram para casa três mosquiteiros --um para ela, outro para a irmã de 16 anos, e o terceiro para os pais. "Passava a noite inteira gritando para os meus pais virem matar os mosquitos. Teve uma noite que matamos uns cem."

Reclamações sobre o "boom" de pernilongos são frequentes em bairros da zona oeste, como Vila Madalena, Pinheiros e Butantã --ao lado do rio Pinheiros, criadouro ideal da praga.

Mas a infestação também chega a locais onde a presença dos insetos era mais rara, como Higienópolis (centro).

COMBATE

Moradores são unânimes em dizer que, neste ano, a situação está pior. E a culpa não é só do calor recorde. Agentes da prefeitura que realizam vistorias e o controle dos insetos não são vistos com frequência pelas ruas.

Sob condição de anonimato, os funcionários que atuam na região oeste confirmam que as visitas diminuíram.

Eles dizem que desde o meio do ano passado não há carros para levá-los para as vistorias, o que dificulta a localização de criadouros do mosquito. Imbróglios jurídicos paralisaram licitações feitas pela prefeitura para a contratação mais de 700 veículos.

Para piorar, o contrato emergencial, que disponibilizava 200 carros para o serviço, acabou e ainda não foi refeito.

Agentes têm feito visitas a pé. Outros usam ônibus.

O problema é que mesmo quando eles conseguem chegar aos locais e fazer as vistorias, pouco conseguem resolver: a máquina que realiza a nebulização de pernilongos está quebrada há três anos, conta um deles, que pediu para não ser identificado.

Nesse período, agentes têm pedido ajuda a outros órgãos, o que torna o serviço lento.

Nessa segunda-feira (7), a Folha esteve no local de onde saem os carros que realizam o serviço na zona oeste. Havia um veículo emprestado do Centro de Controle de Zoonoses preparado para fazer a nebulização na região de Pinheiros.

Enquanto uma solução mais eficaz não vem, moradores apelam para repelentes --que chegaram a acabar em ao menos cinco farmácias da Vila Madalena no final de 2012.

"Pego meu veneno e meu mata-mosquito e saio matando", conta Roberto Carvalho, 47, de Higienópolis.

Editoria de arte/Folhapress

OUTRO LADO

A gestão Gilberto Kassab (PSD), questionada sobre o problema no final de dezembro, afirmou que a falta de veículos não atrapalhou o trabalho, pois os automóveis "não são fundamentais para o manejo dos agentes".

Disse, porém, que está prestando todas as informações necessárias para o Tribunal de Contas do Município, que barrou a última licitação para a contratação de cerca de 700 carros.

A gestão Fernando Haddad (PT) afirmou que vai apurar a denúncia dos agentes de que a máquina para fazer a nebulização dos pernilongos está quebrada há três anos.

As duas gestões afirmaram que a prefeitura monitora as quantidades de larvas e mosquitos adultos em 54 pontos do rio Pinheiros.

O rio é um criadouro do mosquito por ter baixa correnteza e conter matéria orgânica (esgoto) em abundância para a alimentação das larvas do pernilongo.

Segundo a gestão, o controle das larvas "pode ser realizado até quinzenalmente", por meio de barcos. "O controle de mosquitos adultos, quando necessário, é realizado pela aplicação de inseticidas nas margens do rio."

A prefeitura também afirmou que são feitas outras ações como o controle da vegetação das margens do rio e a remoção de vegetação aquática, que servem de abrigo às larvas e aos mosquitos adultos.


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