Folha de S. Paulo


Primeiro dia do Fartura tem comidas, aulas e arte para todos os gostos

O primeiro dia da edição paulistana do festival Fartura, no Jockey Club, em São Paulo, neste sábado (25), ofereceu comida, diversão e arte para todos os gostos.

O evento, do qual a Folha é parceira, nasceu de um projeto que realiza expedições pelo país para mapear e catalogar ingredientes e produtores, muitas vezes anônimos, que ajudam a compor a cadeia alimentar no Brasil -de cabo a rabo, do campo à mesa.

A primeira edição paulistana do Fartura é também simbólica porque, depois de encerrado o primeiro ciclo das expedições, que percorreu os 26 Estados brasileiros mais o Distrito Federal, pela primeira vez no evento haverá ao menos um representante de cada uma dessas paradas.

Antes do meio-dia, horário de abertura do festival, o público já aumentava em frente à bilheteria. Ao todo, 3.500 pessoas foram ao primeiro dia do evento e 8.000 pratos foram servidos, o que equivale a um total de três toneladas de alimentos.

Enquanto os primeiros visitantes entravam, contudo, as panelas já estavam a todo vapor. Os chefs chegaram cedo e, às 9h, já estavam cozinhando em suas barraquinhas.

PROCURA ALTA

Apenas começou a hora do almoço e havia fila para experimentar o pê-efe da chef Ariani Malouf (Mahalo), de Cuiabá. Às 14h, essa era a barraquinha que atraía o maior número de pessoas. "Deve ser bom mesmo", dizia alguém que passava. Pois no prato, costela bovina que solta do osso é acompanhada de arroz cremoso com queijo de coalho, ovo, banana e farofa (R$ 25).

Segundo a chef, até as 16h30 já haviam sido vendidas 400 porções do prato. Ariani afirmou que teria que encerrar as atividades da sua cozinha, já que os ingredientes são trazidos diretamente do Mato Grosso, e ela precisaria economizar para servir mais pratos no segundo dia do evento.

Os chefs são orientados pela organização do Fartura a produzirem 500 porções de seus pratos para os dois dias do festival.

A grande procura pelos pratos salgados trouxe como principal consequência uma alta demanda por sobremesas.

O cheiro de brigadeiro de cacau em um dos corredores do evento animou os visitantes a enfrentarem a fila para comprar o doce. O tempo de espera chegou a 20 minutos.

Dona Nena, a chef, conversava enquanto enrolava o doce. Por volta das 18h30 ela já havia vendido 700 unidades. "Pedi ajuda pro pessoal e estou fazendo mais. Tinha me preparado para vender até 500 hoje."

MÚSICA

A programação cultural que acompanha o evento, e que tem entre os destaques as apresentações de Anelis Assumpção (que recebe Elza Soares) e Curumim, além de atrações para crianças -caso das companhias Pia Fraus e Sobrevento, começou pontualmente às 13h.

Dividida entre o palco principal e o espaço cultural –tablado no setor de comida de boteco e food trucks, o sábado teve MPB, rock e teatro para o público infantil.

Isaías e seus Chorões, a primeira banda a se apresentar, tocaram por mais de uma hora clássicos do chorinho. As mesas em frente ao palco, no início ainda vazias, foram lotando durante o show.

Depois de uma degustação de cacto, os pais gourmets puderam levar seus filhos para o caatinga cenográfica montada no espaço cultural, onde a cia. Pia Fraus apresentou "Bichos do Brasil".

Por volta das 18h, quando a temperatura começou a cair, a banda Mustache & os Apaches chegou para esquentar o público, que se aproximou do palco principal para dançar o "folk jazz" do grupo.

O grande destaque do dia foi a apresentação das cantoras Elza Soares e Anelis Assumpção, que encerraram com muita energia a programação cultural.

Mesmo com os termômetros marcando quinze graus, o show reuniu mais de cem pessoas, que entoavam animadas as canções das cantoras. Alguns chefs também aproveitaram para curtir o som das duas, como Léo Gonçalves (Cozinha DOC).

Elza entrou no palco logo após Anelise cantar a música "Elza Soares", de autoria do seu pai, Itamar Assumpção. O público ficou em polvorosa com a cantora, que estava em uma cadeira de rodas.

A artista cantou três músicas: "Maria da Vila Matilde", "A carne" e "Volta por cima". O público até pediu "bis", mas Elza, de quase 80 anos, não cedeu e se despediu mandando beijos no microfone.

AULAS

Além de experimentar pratos criados por chefs de diferentes regiões do país e de aproveitar a programação cultural, o público também teve a chance de conhecer mais sobre a história, a técnica e curiosidades de algumas dessas receitas nas aulas e demonstrações apresentadas ao longo do festival.

O chef Fernando Oliveira, dono da loja "A Queijaria", destacou em sua palestra o crescimento do consumo de queijo no país -segundo ele, em torno de 10% ao ano.

"Nós vamos virar a pátria do queijo. Temos um mercado pronto pra absorvê-lo, terras e, o mais importante, biodiversidade. Vivemos uma revolução queijeira", disse.

Outros espaços também apregoavam novas revoluções, levantando-se contra ingredientes tradicionais. "Quando a gente fala que a receita tem cacto, todo mundo faz uma cara", disse o cozinheiro sergipano Timóteo Domingos, durante sua aula no Espaço Degustação.

Aos 19 anos, ele é conhecido como "chef do sertão" por transformar as plantas da caatinga, até então utilizadas na alimentação de animais, em receitas premiadas.

Já o estande da Cajuespi (Cooperativa dos Produtores de Cajuína do Piauí) impressionava pela variedade. Eram 400 receitas à base de caju.

Era ali que Leonildo Lima, entusiasta da fruta, mostrava produtos como a cachaça de caju, o mel de caju (uma espécie de melado) e uma cerveja com ela. Apesar do portfólio grande, a marca só consegue produzir 14 das 400 receitas que tem.

Entre elas, tem até um espumante, "que já esta no mercado em Teresina", diz. Victor Serrano Pereira experimentou e comprou uma cachaça. "Tem um gosto muito legítimo da fruta e só depois desse sabor você sente o álcool. É muito gostoso", diz.

LADO A LADO

Uma das atrações mais procuradas ao longo do primeiro dia do festival foi o Espaço Interativo, onde os visitantes comandavam as caçarolas sob a orientação de chefs renomados.

Durante todo o dia, filas se formaram na porta do local. O casal paulistano Silmara Cosme e Marcos Dutra aguardou mais de 1h30 para garantir espaço na aula da chef Bel Coelho, à frente do restaurante Clandestino.

A chef coordenou a demonstração mais disputada, e preparou um filé de pintado defumado guarnecido de purê de banana-da-terra e farofa de jatobá mais caapeba. "Eu sirvo esse prato em um menu-degustação criado a partir do bioma do pantanal", explicou ela.

A programação do Fartura pode ser vista no site do festival –no qual também há um link para a compra de ingressos.

Chamada Especial Fartura

(MAGÊ FLORES, IARA BIDERMAN, JÚLIA ZAREMBA, MARÍLIA MIRAGAIA, CAROLINA MUNIZ)


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