Folha de S. Paulo


Alex Atala defende foie gras e lamenta queda do país no 'Oscar' gastronômico

"O que esse Alex Atala faz?", perguntou um rapaz que passava em frente à barraca do chef na Virada Cultural, na noite de sábado (20). "Galinhada", respondeu o amigo, olhando para o cartaz que anunciava o prato servido no evento, na praça Roosevelt, em São Paulo. "Ah, eu queria sanduíche de carne louca", disse o menino, que deixou a iguaria do cozinheiro famoso para trás.

Já a publicitária Jaqueline Asmir, 24, sabia exatamente quem era o anfitrião daquela barraquinha, montada em meio a outras dez, de diferentes restaurantes, todas servindo galinhada. "Ele é o nono melhor do mundo. Caiu neste ano, mas continua entre os dez", afirmou ela, que ficou alguns minutos na fila para comprar, por R$ 30, a comida, vendida em uma caixa.

Foi assim, entre fãs e pessoas que passavam no local por acaso, que Atala permaneceu das 19h30 à meia-noite na praça Roosevelt. Nesse tempo, duas filas se formavam: uma para comprar a galinhada e outra para tirar foto com o chef.

Atala foi curador do evento neste ano e ajudou a planejar a parte gastronômica para que não se repetisse a confusão da Virada Cultural de 2012, quando houve tumulto na barraca da galinhada do chef, no Minhocão.

Atala conversou com a Folha na praça Roosevelt e, além de comemorar a tranquilidade da galinhada deste ano, criticou o projeto de lei municipal para proibir o foie grais e comentou o resultado do último 50 Best Restaurants, dos melhores restaurantes do mundo, divulgado em 1º de junho.

"É um absurdo", falou o chef sobre a proposta, de autoria do vereador Laércio Benko (PHS), de vetar a produção e a venda, em São Paulo, do ingrediente feito de fígado de pato em São Paulo. A produção envolve a alimentação forçada das aves, por meio de um tubo de silicone introduzido na garganta.

"Como é possível a cidade regulamentar o que a pessoa come? Onde isso vai parar?", indagou Atala. "A gastronomia é uma força turística de São Paulo. Em vez de tolher, deveriam promovê-la", afirmou.

O chef minimizou a queda de seu restaurante D.O.M. no 50 Best, de sétimo para nono lugar: "Para mim, entrar no 50 Best foi incrível. Estar há dez anos na lista é um supergol. Mas, claro, eu tenho família, tenho outros projetos", disse ele.

Atala disse estar preocupado com o fato de o Brasil ter perdido espaço na lista dos melhores do mundo. "Já tivemos três entre os 50, agora somos dois [além do D.O.M., está o Maní, de Helena Rizzo, na 36ª colocação]", lamentou. Para ele, isso tende a piorar: "O Brasil vai ficar para trás do mundo todo se continuar assim, sem incentivar a sua gastronomia. Temos menos restaurantes no ranking do que a Argentina", disse.

O incentivo, para o chef, deveria partir também do governo. "É preciso valorizar nossos ingredientes internacionalmente. O governo precisaria promover nossa comida, como o Peru fez, por exemplo."


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