Folha de S. Paulo


Método de produção de cuias paraenses se torna patrimônio cultural

Rogério Assis
Tacacá servido em cuia em barraca de rua em Belém (PA)
Tacacá servido em cuia em barraca de rua em Belém (PA)

As cuias negras ornadas com motivos indígenas, tipicamente usadas para comer tacacá (caldo extraído da mandioca-brava com goma de tapioca, camarão seco e jambu) nos Estados amazônicos brasileiros, são, desde quinta-feira (11), um patrimônio cultural do país.

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), por meio de seu conselho consultivo do patrimônio cultural, aprovou o pedido de reconhecimento do modo de produção desses utensílios como patrimônio brasileiro –feito em 2010.

Na decisão, o instituto reconheceu que a produção das cuias faz parte de "complexas dinâmicas de colonização e ocupação do espaço amazônico, e está diretamente relacionada ao aproveitamento de recursos naturais disponíveis no Baixo Amazonas".

Na região, elas ajudam em atividades das mais diversas –de pegar água do rio e tomar banho a funções decorativas, além de usá-las como utensílio para alimentação.

A TÉCNICA

As cuias, em geral produzidas apenas por mulheres na região de Santarém e Monte Alegre (PA) –onde os moradores são conhecidos como pinta-cuias–, seguem uma técnica de mais de dois séculos.

Os frutos da cuieira –árvore baixa e verdejante, que floresce o ano inteiro– são partidos ao meio e mergulhados em água, para amolecer. Antes de serem tingidos com cumatê, um pigmento natural típico da região, passam por uma raspagem (com escama de pirarucu e folhas de embaúba) e secagem ao sol.

Depois de tingidas, as cuias ainda passam seis horas abafadas com um pano em um estrado formado por palha, areia, cinzas e urina humana (para extrair a amônia), para fixação do pigmento.

Só então elas são lavadas e, depois, ornamentadas –técnica que surgiu só no século 20.

Veja abaixo o vídeo usado no processo para incluir a produção de cuias na lista do patrimônio cultural brasileiro.

Cuias Iphan


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