Folha de S. Paulo


Para chefs, 'Michelin' tem prestígio, mas edição brasileira é alvo de críticas

Depois de 115 anos, o guia "Michelin" chega ao Brasil. A partir desta sexta (10), a edição vermelha "Rio de Janeiro & São Paulo" será vendida em bancas de jornal e livrarias.

Chefs, restaurateurs e acadêmicos do setor são unânimes em afirmar que a vinda da publicação é mais um indicativo do ganho de prestígio da gastronomia brasileira.

"E, pelo menos desta vez, saímos na frente dos vizinhos da América Latina", brinca o chef Alex Atala, que teve duas casas laureadas com estrelas pelo guia –D.O.M., único com duas, e Dalva e Dito, com uma.

Mas será que um guia de papel, nascido em 1900, tem o mesmo peso de outrora, quando era capaz de ditar o sucesso e o fracasso de restaurantes no mundo?

Em termos de credibilidade, sim, dizem os chefs ouvidos pela Folha. Já para o sociólogo Carlos Alberto Dória, a credibilidade de um guia está ligada à sua eficácia: "indicar os lugares certos para as pessoas certas no tempo certo. Não é o caso" (leia análise aqui ).

"Talvez o 'Michelin' até tenha perdido um pouco da importância [diante da concorrência com blogs e prêmios internacionais]", diz Feilpe Bronze, do carioca Oro. "Mas ainda tem prestígio inegável."

Rogério Fasano, cujo restaurante que leva seu sobrenome foi contemplado com uma estrela, acha o guia criterioso, mas é avesso ao 50 Best, que causa frisson com o ranking anual de restaurantes. "É patético eleger o melhor restaurante. Isso é impossível, porque são incomparáveis."

Rosa Moraes, diretora da rede de universidades Laureate Brasil e jurada do 50 Best, acha o prêmio mais contemporâneo. "Quem é mais 'cool', passou a segui-lo em vez do clássico 'Michelin'."

O próprio guia francês reconhece a competição com novos meios. "As pessoas podem ser 'inspetoras' e dar sua opinião, mas a gente não sabe quem elas são e que preparo elas têm. Nosso papel é ser um 'padrão ouro'", diz Michael Ellis, diretor internacional dos guias.

CONSERVADOR?

O guia São Paulo-Rio lista 17 casas estreladas. Para alguns, esse número é baixo. E, aliado ao fato de só um restaurante ter recebido duas estrelas (e não haver nenhum três-estrelas), indica certo "conservadorismo".

"Somos conservadores mesmo. Pior seria dar uma estrela e em seis meses descobrir que não vale", diz Ellis.

Josimar Melo, crítico da Folha, por outro lado, ressalta que o guia adota padrão máximo de qualidade e, portanto, a quantidade de estrelas "está de bom tamanho" (leia opinião aqui ).

Editoria de Arte

MICHELIN – RIO DE JANEIRO & SÃO PAULO
ONDE em livrarias, bancas de jornal e lojas de conveniência
QUANTO R$ 80 (304 págs.); o aplicativo é gratuito


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