Folha de S. Paulo


Fabricação de cerveja em casa copia modelo americano, diz especialista

Danilo Verpa/Folhapress
Especialistas falaram sobre cerveja em debate promovido pela Folha em parceria com a rádio 'CBN
Especialistas falaram sobre cerveja em debate promovido pela Folha em parceria com a rádio 'CBN

O mercado das cervejas artesanais no Brasil vive hoje momento parecido com o que os Estados Unidos passaram há 20 anos, afirmou a mestre-cervejeira e sommelière Cilene Saorin em bate-papo sobre a arte da cerveja promovido neste sábado (28) pela Folha em parceria com a rádio CBN.

A conversa, da qual participaram ainda o doutor em bioquímica e sommelier Rodrigo Louro e o especialista em cervejas Eduardo Passarelli, foi mediada por Luiza Fecarotta, editora dos cadernos "Comida" e "Turismo", da Folha, e Thiago Barbosa, apresentador do CBN SP.

Louro, sócio da escola de cervejas Sinnatrah, afirmou que a fabricação da bebida em casa no Brasil copia a escola americana. "Esse processo caseiro ajudou muito o mercado deles a chegar aonde chegou, e nós vamos por esse caminho também."

Segundo ele, hoje é fácil encontrar ingredientes para a produção de cerveja caseira. "Importamos ingredientes de muita qualidade da Bélgica, da Alemanha e dos Estados Unidos. Temos acesso ao que o mundo tem de melhor." Por R$ 3, segundo ele, é possível produzir uma garrafa de 600 ml em casa.

ARTESANAL

De acordo com Passarelli, a cerveja artesanal –"aquela em que o mestre-cervejeiro define a receita, e não o departamento de marketing"– não necessariamente é produzida em pequena escala. "Mas vemos as pequenas cervejarias conseguindo explorar mais estilos diferentes, porque produz levas menores para esse nicho que ainda é pequeno", disse.

A diferença da cerveja artesanal para a popular, segundo Louro, é a busca por qualidade em todos os ingredientes. Mas isso não significa que todas as cervejas feitas dessa forma sejam melhores que as produzidas por grandes indústrias.

"Não existem cervejas piores ou melhores quando você considera diferentes estilos bem-feitos. Há cervejas populares muito boas e outras feitas a poucas mãos, artesanais, que ainda não acertaram", opinou Saorin.

Para ela, até o milho e o arroz são aceitáveis na cerveja -onde predomina a cevada. "É pouco cuidadoso negligenciar o uso dessas matérias-primas. Elas também têm seu valor", afirmou. Louro, entretanto, ponderou: "O milho tem uma proposta interessante que é aliviar o corpo e o sabor da bebida, mas a indústria às vezes usa para baratear a produção. Quando o ingrediente é utilizado apenas por isso, não acho interessante".

"Quando a gente pensa em cerveja, pensa em uma bebida extremamente popular e democrática. Não há mal nenhum em produzir, de forma bem-feita, cerveja para alegrar os mais pobres", respondeu Saorin.

SEM ÁLCOOL

Para os três convidados, cerveja sem álcool também pode ser boa. "Há rótulos bem caprichados", disse Louro. "E alguns funcionam como isotônicos, dá para tomar depois de praticar esportes para hidratar."

Segundo Saorin, o país que mais consome cerveja não alcoólica é a Espanha. "No Brasil temos menos de 0,5% de volume consumido no mercado, mas na Espanha chega a 12%. Isso vem da consciência de que dá para tomar cerveja não pelo álcool. Bebe-se pelo prazer do que ela oferece por causa de seus outros ingredientes."

Sobre a temperatura ideal da bebida, os convidados concordaram: servida estupidamente gelada, ao gosto do brasileiro, a cerveja perde sabor. "Na temperatura adequada ela ainda refresca e não esconde tanta coisa", disse Louro. Essa temperatura, diz Passarelli, pode variar de 1° a 12°, de acordo com a cerveja.

Passarelli fez uma analogia com o sorvete, que derretido é bem mais doce do que quando gelado, já que o frio mascara sabores. "Se você quer apreciar a cerveja, tomar tão gelada é jogar seu dinheiro fora."

DICAS DE BARES PARA TOMAR CERVEJA, SEGUNDO OS CONVIDADOS
-Frangó
-Cervejaria Nacional
-Empório Alto dos Pinheiros
-Aconchego Carioca
-Pirajá

DICAS DE HARMONIZAÇÃO
-Preste atenção no equilíbrio: prato delicado pede cerveja delicada; prato robusto pede cerveja robusta.
-Outro ponto é o diálogo entre os sabores: cerveja amarga com prato doce harmonizam por contraste, enquanto cerveja ácida com prato com acidez harmonizam por semelhança


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