Ações trabalhistas não são novidade no universo dos restaurantes estrelados de Nova York. Nos últimos anos, casas com três estrelas no guia "Michelin", como Le Bernardin e Masa, tiveram de responder a processos movidos por ex-funcionários.
Na maior parte dos casos, as ações envolvem reclamações sobre a divisão das gorjetas –que, nos EUA, respondem por grande parte da renda de quem trabalha no ramo– ou a jornada intensa.
Mas um processo movido contra o Chef's Table at Brooklyn Fare, único restaurante três-estrelas fora da ilha de Manhattan, em Nova York, chama a atenção por outro motivo: o chef Cesar Ramirez é acusado de discriminar seus clientes. Entre os alvos, estariam visitantes asiáticos e até mesmo moradores de partes específicas da cidade.
De acordo com a ação, protocolada em dezembro e cuja primeira audiência está marcada para abril, Ramirez se referia a clientes asiáticos como "pessoas de merda".
Emi Howard, uma ex-garçonete de ascendência oriental, afirma que foi proibida por Ramirez de posicionar "asiáticos" perto dele no balcão em que os clientes são atendidos. Orientais e "Upper West Siders" (expressão utilizada para designar moradores da parte noroeste de Manhattan) deveriam ser servidos com os piores cortes de peixe.
Spencer Platt/Getty Images/AFP | ||
O chef Cesar Ramirez do Chef's Table at Brooklyn Fare |
O Chef's Table recebe 18 pessoas por vez para provar seu menu-degustação de cerca de 20 pratos. O custo para cada cliente é de US$ 225 (aproximadamente R$ 727) pelo menu, mais 20% de taxa de serviço (US$ 45, R$ 145), cobrados no cartão de crédito logo após a reserva.
Além de tratar das acusações de racismo, o processo afirma que a taxa de serviço não era distribuída entre os funcionários. Boa parte das gorjetas adicionais deixadas pelos clientes também era retida por Ramirez e pelo dono do Chef's Table, Moe Issa.
Os cinco ex-funcionários citados na ação também dizem ter sido obrigados a trabalhar mais de dez horas por dia, seis dias por semana, sem receber hora extra. Eles querem receber esses pagamentos adicionais mais uma indenização por danos, mas o valor não foi divulgado.
Em geral, processos como este terminam em acordo e não vão a julgamento. O advogado responsável pelo processo, Maimon Kirschenbaum, é o terror dos restaurantes nova-iorquinos e está por trás de quase todas as ações movidas contra as principais casas da cidade. Procurado pela Folha, ele não quis dar entrevista.
Divulgação | ||
Salão do Chef's Table, que recebe 18 pessoas por vez |
OUTRO LADO
Ramirez nega as acusações de discriminação. "Como eu posso ser racista com asiáticos? Se de 85% a 95% dos nossos produtos vêm da Ásia?", afirmou o chef ao site Eater. "Nós sempre nos focamos na cultura asiática. E eu trabalhei com asiáticos durante toda a minha carreira."
Moe Issa afirma que as alegações sobre o salário os funcionários também não são verdadeiras. Segundo ele, o restaurante distribui a taxa de serviço ao pagar salários acima da média para seus funcionários como forma de atrair "empregados suficientemente bons". E as gorjetas, afirma, são sempre divididas.
A assessoria de imprensa do restaurante afirmou que a questão está nas mãos dos advogados e que não fará comentários neste momento.
MAIS
Leiarelato de jantar no Chef's Table.