Folha de S. Paulo


'Jovens precisam voltar para cozinha', diz filho de Paul Bocuse

Em uma rápida passagem pelo Rio, Jérôme Bocuse, 45, filho do mestre da cozinha francesa Paul Bocuse, escolheu a caipirinha como bebida favorita para relaxar entre um compromisso e outro.

Na varanda de um hotel debruçada na praia de Copacabana, ele falou à Folha sobre os rumos da gastronomia. "Está na hora de os chefs voltarem para a cozinha."

Daniel Marenco/Fohapress
Jerome Bocuse, 45, em hotel em Copacabana, no Rio de Janeiro
Jerome Bocuse, 45, em hotel em Copacabana, no Rio de Janeiro

Ele veio ao Rio para divulgar o concurso de jovens talentos Bocuse d'Or, que fará parte dos eventos do Sirha, encontro internacional de grandes chefs que o Rio vai sediar em outubro do ano que vem pela primeira vez.

Se seu pai foi um dos grandes responsáveis no passado pelos chefs terem saído da cozinha e conquistado o estrelato, hoje ele acha que está na hora de fazer o caminho de volta. "Um jovem chef agora já quer começar com sucesso. Estuda um, dois anos e acha que está pronto. Não é bem assim. É preciso disciplina e consistência."

O que mostra que o caminho para vencer o Bocuse d'Or (criado em 1987 em Lyon, terra natal da família) não há de ser fácil. Jérôme conta ter relutado com a profissão de chef, já que via desde cedo seu pai trabalhar demais, nos fins de semana e feriados. "Ele nunca tinha uma folga, achava aquilo massacrante."

Gostava de esportes e só começou a se interessar por gastronomia mais tarde, depois dos 20 anos. Foi estudar culinária em Nova York e hoje mora em Orlando, comandando o pavilhão francês de Epcot Center.

"O trabalho que faço em Orlando é mostrar um pouco da culinária francesa para que as pessoas tenham vontade de ir conhecer de perto", diz. "Estou continuando o que meu pai começou."

Nascido em Lyon, Jérôme não se considera um tradicionalista e gosta de viajar e provar sabores novos. Filho bem criado da "nouvelle cuisine", valoriza os bons produtos e uma cozinha de referência.

"Fui comer recentemente em um três-estrelas ["Michelin"], cujo nome não quero dizer, e o visual da comida era impactante, mas não consegui passar do primeiro prato: não tinha sabor", diz.

Segue a cartilha do pai, que disse certa vez: "Só existe uma culinária: a boa."

No Rio, ele deliciou-se com a caipirinha, almoçou no premiado Irajá Gastrô, do chef Pedro de Artagão, no qual comeu um frango com quiabo, "muito saboroso", e participou de um jantar em homenagem aos franceses Claude Troisgros, Laurent Suaudeau (que veio para o Brasil trazido por seu pai) e Roland Villard, feito por chefs brasileiros e franceses.

Promete voltar ao país no ano que vem para descobrir novos talentos por aqui. Só um ganhará o aval dos Bocuse.


Endereço da página: