Folha de S. Paulo


Safra recorde de trufas brancas faz preços desabarem na Itália

Mesmo em meio à mais longa desaceleração econômica desde a Segunda Guerra Mundial, os gourmands italianos têm algo a celebrar: trufas, e muitas trufas.

Os preços das trufas brancas italianas caíram em 37%, por conta das chuvas incomuns do verão, que resultaram em safra recorde, 30% superior à do período em 2013. O preço é de € 220 (R$ 690) por cem gramas, ante € 350 (R$ 1.100) em 2013 e € 500 (R$ 1.570) em 2012, de acordo com dados do Centro Nacional de Estudo das Trufas.

Tomas Rangel/Folhapress
Trufa branca, que neste ano teve safra recorde na Itália
Trufa branca, que neste ano teve safra recorde na Itália

A Itália, com uma dívida pública de mais de € 2 trilhões (R$ 6 trilhões), deve ver a economia se contrair em 0,3% neste ano, segundo projeções do governo.

Em meio ao pessimismo e à angústia, o delicado e veludoso "tartufo bianco" se transformou em rara fonte de alegria, um lembrete dos dias melhores do passado.

As trufas são uma iguaria sazonal, tipicamente disponível de outubro a dezembro, que crescem em raízes de árvores como o carvalho e a faia. São, em geral, raladas cruas e adicionadas aos pratos, ao contrário da variante negra, mais barata, que é quase sempre cozida.

"Na Itália, estimamos que o negócio tenha um valor de € 400 milhões (R$ 1,2 bilhão), incluindo as negras", diz Mauro Carbone, diretor do Centro Nacional de Estudo de Trufas, em entrevista na feira e mercado anual de trufas de Alba, na região do Piemonte, que vai até 16 de novembro.

Trufas brancas foram servidas em um jantar que reuniu o antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e o presidente russo Vladimir Putin, na semana passada.

Os dois discutiram vários tópicos, entre os quais a crise da Ucrânia e as sanções comerciais, enquanto comiam macarrão talharim e trufas brancas de Alba, e ovos fritos com trufas raladas, segundo a porta-voz do italiano.

NO BRASIL

Os comerciantes italianos agora querem levar seu amor pelo produto ao exterior, na esperança de que as pessoas ricas nos mercados emergentes desenvolvam apego à iguaria, o que resultaria em empuxo extra para a demanda.

"Mercados emergentes como o Brasil, China e Índia se tornarão muito interessantes para nós", disse Alessandro Bonino, cuja loja em Alba vende trufas e outras especialidades locais. "Eles verão na iguaria o que hoje veem no caviar."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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