Folha de S. Paulo


Grupos cultivam alimentos orgânicos e participam de feiras de troca

Um hábito antigo, de recolher frutos das árvores que cresciam no quintal e doá-los ou trocá-los com vizinhos, está voltando ao dia a dia de algumas cidades.

Pessoas que passaram a se dedicar à agricultura urbana, cultivando verduras, legumes e frutas em ambientes rodeados de prédios, têm feito isso.

Raquel Cunha/Folhapress
Maria do Carmo Azevedo, conhecida pelos ovos das galinhas que cria no Butantã
Maria do Carmo Azevedo, conhecida pelos ovos das galinhas que cria no Butantã

"Assim, garantimos a procedência do alimento e temos mais variedade no prato", diz a arquiteta Susana Prizendt, 40, que cultiva hortaliças num apartamento de 70 m² em Pinheiros (zona oeste de São Paulo) e participa de feiras de trocas.

Foi em uma delas, na Vila Madalena, que Susana conheceu Maria do Carmo Azevedo, conhecida como Gorda –e pelos ovos que suas galinhas botam no quintal.

Gorda tem duas galinhas. Cada uma dá 20 ovos por mês. "Já tive seis, mas troquei quatro delas por pães, geleia e roupas em uma feira."

VIZINHANÇA

Fora do Brasil, existem iniciativas semelhantes. A gaúcha Jaqueline Brockert mora no Estado do Oregon, nos EUA, onde montou uma horta em cima de sua garagem. Inspirou-se na prática de sua mãe, em Porto Alegre.

Aqui no país, mais de 9.000 pessoas se comunicam pela página do grupo Hortelões Urbanos no Facebook para trocar informações sobre cultivo e para se informar sobre eventos de troca.

Como ainda não são organizados sistematicamente, muitos deles se concentram em bairros de São Paulo e ocorrem entre a vizinhança.

A empresária Claudia Visoni, 48, iniciou cultivo de orgânicos em sua casa há dois anos. Influenciou vizinhos, em Pinheiros, que hoje também têm pequenos cultivos –e trocam entre si.

Suas doações começaram quando a primeira safra de maracujá rendeu mais do que ela era capaz de consumir.

Contra o desperdício de alimentos e seguidora dos princípios da permacultura, que em sua base pede que o excedente seja distribuído, Claudia doou os maracujás.

Jaqueline Brockert/Divulgação
Horta orgânica da brasileira Jaqueline Brockert, que mora há dez anos no Oregon (EUA)
Horta orgânica da brasileira Jaqueline Brockert, que mora há dez anos no Oregon (EUA)

Só no ano passado, sua horta caseira rendeu 100 quilos de chuchu e 20 quilos de maracujá –nenhum tomate de qualidade. Mas, de quando em quando, ela recebe doações de... tomates.

Os donos dessas pequenas produções não aceitam vender o que produzem. E nenhum ouvido pela Folha conseguiu estimar quanto dinheiro já "brotou" de suas hortas –até porque, vários alimentos não estão disponíveis com frequência em supermercados de São Paulo.

Feijão-guandu, capuchinha, peixinho (folha em forma de peixe que, se empanada, tem gosto de peixe), caruru, bertália, ora-pro-nóbis e taioba são algumas deles.

No Sumaré, a administradora Fabiola Donadello, 42, também criou uma rede de trocas com os vizinhos da rua.

Ela planta chicória, alface, almeirão e ganha limão, salsinha e laranja da "vizinha de baixo" e milho e abóbora do "vizinho de cima".

Na casa do biólogo Cesar Pegoraro, 41, tudo o que brota é dividido com a família e com os vizinhos. Ele compartilha os processos de plantio com os três filhos pequenos.

"Eles têm uma outra relação com as verduras, por exemplo, na hora de comer o que cultivaram."

COMO FUNCIONAM

1 - Em feiras de trocas, pode-se levar mudas e sementes, além dos próprios frutos, e comidas preparadas a partir do que se colheu do jardim

2 - As trocas são livres, não baseadas em peso ou em quantidade. A ideia é compartilhar alimentos orgânicos, e isso geralmente acontece quando há excedente de produção

3 - A feira é oportunidade de criar rede de trocas de alimentos e de informações sobre cultivo no bairro de residência

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FEIRA DE TROCAS NA SALA CRISANTEMPO
Onde r. Fidalga, 521, Vila Madalena, tel. (11) 3819-2287
Quanto R$ 3
Quando primeiro domingo do mês, das 14h às 17h (próxima edição: 3/8)

PIQUENIQUE DE TROCAS DE MUDAS
Onde Parque da Luz (pça. da Luz, s/nº, região central)
Quanto grátis
Quando a cada três meses (próxima edição: 3/8, das 10h às 15h)


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