Folha de S. Paulo


Livro traça trajetória de Fabrizio Fasano

Ele nasceu chique, enricou, faliu e se reergueu. E, desde menino, colou a sua marca de arrojo e de sofisticação no mercado paulistano dos restaurantes de luxo, na indústria de bebidas finas e na hotelaria de alto luxo.

"Fabrizio Fasano, Colecionador de Sonhos", escrito por Ignácio de Loyola Brandão, conta a história de um senhor que, nascido em Milão, em 1935, é o paulistano mais importante por detrás da arte do bem receber em São Paulo.

Originário de uma família italiana que atua no ramo de alimentação em São Paulo desde pelo menos 1902, Fasano é, ele também, dono de uma história empresarial de altos e baixos.

Na última década do século 19, quando Vittorio Fasano, avô de Fabrizio, decidiu se estabelecer em São Paulo, a população da capital somava 240 mil habitantes.

Divulgação
Fabrizio Fasano e seus filhos
Fabrizio Fasano e seus filhos

E, para se ter ideia da explosão demográfica então em curso, basta dizer que, entre 1880 e 1929, a cidade testemunhou a chegada 3,5 milhões de imigrantes italianos.

Vittorio foi sucedido por Ruggero, pai de Fabrizio, outro mago das artes ítalo-paulistanas da culinária e o personagem por detrás do Salão Fasano, que, no final dos anos 1950, marcou época no Conjunto Nacional, prédio modernista da avenida Paulista.

Juscelino Kubitschek (1902-1976), o presidente americano Dwight Eisenhower (1890-1969) e até Fidel Castro, 87, estiveram no Salão Fasano, onde aconteceram apresentações de estrelas como Marlene Dietrich (1901-1992) e Sarah Vaughan (1924-1990).

Apesar de assinado por Ignácio de Loyola Brandão, o livro soa permeado pela fala do próprio Fabrizio Fasano.

Menciona o namoro com sua mulher, Daisy, o ambiente no Colégio Dante Alighieri, então frequentado quase exclusivamente pela colônia italiana de São Paulo, e conta as peripécias do período em que o protagonista estudou nos Estados Unidos.

FAMÍLIA À PAULISTANA

Mas o relato inclui também narrativas de Daisy e dos três filhos de Fabrizio: o "restaurateur" Rogerio, Fabrizio Júnior e Andrea, todos eles, aliás, figuras mais que ativas nos negócios da família.

A história começa para valer quando Fabrizio ganha rios de dinheiro comercializando o uísque Old Eight.

"O bom whisky você conhece no dia seguinte", dizia o slogan da bebida que, produzida no Brasil, também usava malte escocês e chegou a vender entre 700 mil e 1 milhão de caixas (de 12 garrafas cada uma) ao ano, no início dos anos 1970.

Com o Old Eight, Fabrizio Fasano e companhia limitada varreram do mapa o falso "scotch" que, até então, inundava o mercado brasileiro.

Já o ocaso dessa era tem início quando Fasano vendeu sua marca para a multinacional Heublein e se tornou um executivo da empresa.

A essa altura, Fabrizio tinha outros negócios de expressão, curtia com a família uma fazenda histórica no interior paulista e circulava nos carros mais chiques da cidade. Naquela época, também editava revistas, construía iates e promovia festas nas quais Emerson Fittipaldi e Sérgio Mendes, ao piano, eram figuras fáceis.

Mas o "waterloo" de Fasano foi ter, ao sair da Heublein, lançado um novo uísque, batizado de Brazilian Blend, que perdia a cor. A bancarrota foi inevitável. Só que, a despeito dela, o senhor dia seguinte se reergueu para provar que nem a falência foi capaz de tolher seu insuperável espírito de "carpe diem".

FABRIZIO FASANO, COLECIONADOR DE SONHOS
Autor Ignácio de Loyola Brandão
Editora LeYa
Quanto R$ 34,90 (206 págs.)


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