Folha de S. Paulo


Oferta de salmão de cativeiro cresce, mas inspira cuidados

A presença do salmão na mesa brasileira deve crescer -pelo menos se depender do esforço dos produtores chilenos. Já onipresente nos restaurantes japoneses (seu principal mercado), agora os produtores incentivam seu uso na mesa doméstica.

Peixe selvagem, obtido pela pesca, é mais raro e caro

O salmão é o terceiro item de exportação do Chile (atrás do cobre e das frutas); e o Brasil, seu terceiro mercado (depois de Estados Unidos e Japão). Para a gastronomia, é um produto único -sua textura e sabor (além da cor, também sedutora) são muito distintos dos demais peixes.

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Salmão de criatório do Chile, terceiro item de exportação desse país
Salmão de criatório do Chile, terceiro item de exportação desse país

Mas também traz preocupação. Mais de 80% do consumo mundial é de salmão de cativeiro, de países como Noruega, Chile e Canadá, o que tornou a oferta mais abundante e acessível, mas levanta objeções de ambientalistas e nutricionistas.

A concentração de peixes nos criatórios favorece a disseminação de doenças como o vírus ISA e o piolho cáligus, que requerem tratamentos com remédios e produtos químicos. E como as criações ficam no mar (os peixes ficam em "gaiolas" de redes), os vírus e parasitas se espalham pelo ambiente, ameaçando outras vidas marinhas, inclusive a dos salmões selvagens.

ALARME

Numa viagem organizada pela associação de produtores à bela região chilena da ilha Chiloé, mil quilômetros ao sul de Santiago, observei o extremo cuidado, inclusive sanitário, da produção local.

Era de se esperar, depois que, em 2008, uma epidemia do vírus ISA provocou uma enorme crise na produção, com impacto social na região.

A mudança de local das fazendas e os cuidados tomados ainda não garantiram a solução do problema. Segundo Felipe Manterola, gerente de Administração e Finanças da SalmonChile (associação de empresas do setor), a indústria "implementou um programa de contenção de doenças para enfrentar cada uma delas" com medidas como vacina em cada peixe e menor densidade nas gaiolas.

Quanto aos antibióticos e remédios, Manterola afirma que as leis restringem seu uso "ao necessário, para resguardar a saúde humana, o bem-estar animal e o meio ambiente". Acrescenta que as autoridades fazem controles prévios e posteriores à colheita, para "garantir um produto seguro, inócuo e de classe mundial".

Contudo, órgãos do próprio governo chileno vivem soando o alarme. Ainda em outubro deste ano, o Servicio Nacional de Pesca advertiu para o aumento "considerável" de cáligus nas empresas salmoneiras do país, tendo registrado a existência de 26 fazendas de salmão e truta com altos índices do piolho.

Entidades ambientalistas que se preocupam com a contaminação que pode ameaçar os salmões selvagens propõem a mudança do processo de criação. Ele deveria acontecer em tanques fechados, sem contato com o mar (e com menos peixes), sistema mais caro, mas que não contamina o meio ambiente, e permite que a oferta do peixe possa se manter.

O jornalista viajou a convite da TAM Cargo, LAN Cargo e SalmonChile

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Saúde humana pode ser prejudicada

Ambientalistas temem que os antibióticos ministrados aos peixes, e através deles consumidos pelos humanos, ao longo do tempo gerem resistência à sua ação. Outra preocupação é quanto aos resíduos de pesticidas utilizados contra o cáligus, e de substâncias corantes, que podem prejudicar a retina. Os produtores negam que quaisquer desses produtos sejam utilizados em níveis perigosos à saúde.


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