Folha de S. Paulo


Vereador que quer proibir 'foie gras' em SP abre diálogo com chefs e admite rever projeto

O vereador Laércio Benko (PHS), autor do projeto de lei 537/2013, que proíbe a produção e a venda de "foie gras" em São Paulo, abriu diálogo com chefs da cidade depois de uma audiência pública da Comissão de Saúde, Promoção Social e Trabalho realizada na manhã desta quarta-feira (23).

Já durante a audiência --à qual compareceram nomes como Fred Frank e João Leme (dirigentes da Associação dos Profissionais de Cozinha do Brasil), Julien Mercier (Le Bilboquet), Renato Carioni (Cosí) e a pâtissière Mara Mello--, Benko se mostrou disposto a rever o texto do projeto.

"Meu problema não é com o 'foie gras', é com a 'gavage'", disse, referindo-se ao método de produção no qual os gansos e patos são alimentados à força, por meio da introdução de um tubo em sua garganta.

"Se pudermos rever o texto propondo a criação de uma certificação para que não se venda na cidade 'foie gras' produzido por meio de 'gavage', muito bem", completou. "Podemos fazer de São Paulo e do Brasil os primeiros lugares a fomentar esse mercado, fazendo do limão uma limonada".

Fred Frank e João Leme, que falaram na audiência, explicaram aos vereadores da comissão o método de produção usado no país; argumentaram, por exemplo, que o ganso e o pato, por serem aves migratórias, já são fisiologicamente preparados para acumular gordura no fígado.

"Aliás, quanto menos gordo for o fígado, melhor; o fígado muito gorduroso derrete na panela, rende pouco", informou Leme ao vereador.

Outro ponto lembrado pelo grupo de chefs foi o de São Paulo ser conhecida como "capital da gastronomia". "Precisamos, entre muitas outras, dessas iguarias para manter esse título", disse.

Fred Frank leu um manifesto assinado por mais de 45 chefs, entre eles Alex Atala (D.O.M.), Adriano Kanashiro (Momotaro), Alberto Landgraf (Epice), Claude e Thomas Troisgros (Olympe e CT Boucherie), Fabio Barbosa (La Mar), Helena Rizzo (Maní), Henrique Fogaça (Sal), Laurent Suaudeau (Escola da Arte Culinária), Ligia Karasawa (Clos de Tapas), Rodrigo Oliveira (Mocotó) e Salvatore Loi (grupo Egeu).

PRÓXIMOS PASSOS

O projeto 537/2013, já aprovado em primeira votação na Câmara, ainda deve passar por apreciação da Comissão de Saúde e por uma segunda votação em plenário --a vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), que presidiu a audiência, disse acreditar que os chefs e Benko podem "entrar em um consenso".

Se aprovada, ela segue para sanção do prefeito Fernando Haddad (PT). Benko também promete realizar um fórum exclusivo para discutir o projeto, no próximo dia 29, às 16h --segundo a assessoria do vereador, foram convocados para o evento entidades de defesa de animais, chefs e pessoas que procuraram o gabinete para se manifestar.

O grupo de chefs presente na audiência desta quarta-feira promete comparecer às próximas discussões públicas e protocolar na prefeitura todos os documentos já apresentados aos vereadores.

REPERCUSSÃO

No final da tarde desta quarta (23), a Folha conversou com o vereador. Ele reafirmou a intenção de rever o projeto.

"Vou priorizar o diálogo; só darei continuidade [à tramitação do projeto na Comissão de Saúde] depois de fazer mais audiências públicas e eventualmente modificar o texto", afirmou. "Mas, para isso, preciso de embasamento técnico, e ninguém melhor do que os chefs para me darem isso".

Outros vereadores ouvidos pela reportagem e presentes à audiência acreditam que, depois de ouvir os argumentos dos chefs, o vereador deve mesmo ponderar e alterar o conteúdo do projeto.

Eles avaliam que, da maneira que está, o texto corre o risco de não ser aprovado na própria Comissão de Saúde --e de não ser sancionado pelo prefeito.


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