Folha de S. Paulo


Festival de cinema e alimentação aborda revoluções no prato

O que a produção de laranjas no Oriente Médio, a preparação de pratos por duas amigas já idosas e as ideias de um grupo de italianos ativistas nos anos 80 podem ter em comum?

Na tela do 4º Slow Filme - Festival Internacional de Cinema e Alimentação, mostra encerrada neste domingo (15), na cidade histórica de Pirenópolis (GO), essas situações adquiriram tons de revolução, seja pessoal ou histórica.

Em "Jaffa, a laranja mecânica" (Israel/França/Bélgica/Alemanha, 2009), a revolução envolve a força bruta. O documentário explora a tomada da produção das laranjas Jaffa, cultivada por longa data pelos agricultores palestinos, pelo novo Estado de Israel.

Mostrando uma série de peças publicitárias israelenses, e cartazes de protesto do outro lado, o filme revela como a laranja virou um símbolo contraditório de conquista, de um lado, e de amargura, do outro.

Em "Oma & Bella" (Alemanha/Estados Unidos, 2011), documentário intimista exibido neste domingo (15), é possível ver uma revolução muito mais pessoal, revelada aos poucos por duas amigas judias enquanto assam carnes e preparam doces. Enquanto a neta de uma delas filma cenas banais --e, às vezes, curiosas, como quando as judias "depilam" um frango com uma gilete--, Oma e Bella relembram a contragosto o passado vivido em campos de concentração.

Nos 16 filmes exibidos entre quinta-feira (12) e domingo, o Slow Filme buscou abranger, de diferentes maneiras, como o homem se aproxima do tema alimentação, sustentabilidade e tradição. O ponto alto desta edição foi procurar as raízes do movimento Slow Food, que dá o norte ao festival.

VOLTA AO SLOW

Na noite deste sábado (14), a principal atração foi a exibição --inédita no Brasil e, de forma comercial, nos demais países-- do documentário italiano "Slow Food Story" (2013). Em 74 minutos, o filme apresenta recortes de uma trajetória pessoal que modificou a forma como a modernidade encara seu próprio prato.

"Slow Food Story" reconstroi a vida pública de Carlo Petrini --o "Carlin"--, idealizador, ao lado de amigos, do Slow Food e do Terra Madre, braço do movimento mais dedicado à sustentabilidade da produção agrícola.

Hoje sinônimo de respeito às tradições locais, à produção sem pesticidas e ao preço justo pago ao pequeno agricultor, o movimento-revolução foi, ele mesmo, revolucionado desde suas origens, em 1989. De início bastante elitista e voltado ao prazer da mesa, o Slow Food se abriu à importância de se cuidar da terra e do pequeno produtor.

"Salvar o planeta praticando o prazer", resume Petrini, é o que move a rede, que atinge atualmente 150 países e 2.500 comunidades pelo mundo.

Com cenas de bastante humor, o documentário dá apenas pinceladas sobre os diferentes momentos da agitada vida de Petrini, para tentar resumir como o ativista chegou onde chegou.

Em determinada passagem, Petrini relata uma conversa com um diretor do Mc Donalds na Itália, que disse ser o inimigo do homem-símbolo do Slow Food. Ao que Petrini rebate: "Obrigado, sem você não existiria o Slow Food!".

A repórter viajou a convite da organização do evento.


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