Folha de S. Paulo


Argentina vê queda no consumo de carne

Um filé-mignon grosso e suculento, de carne de bois alimentados com grama: para muitos argentinos, um festim como esse é visto como um direito natural.

Mas o consumo de carne bovina caiu tanto ao longo das décadas que a Argentina perdeu sua posição no topo do ranking de consumo per capita deste tipo de carne, título que os pecuaristas estão lutando para reconquistar do vizinho Uruguai.

Miguel Mendez/AFP
Filé sendo colocado em grelha de churrascaria de Buenos Aires, Argentina
Filé sendo colocado em grelha de churrascaria de Buenos Aires, Argentina

No ano passado, por exemplo, o consumo per capita de carne bovina pelos argentinos foi de 58,5 quilos, superando em muito o dos norte-americanos, que comeram 26 quilos.
Mas o consumo atual argentino é uma sombra dos mais de cem quilos que cada homem, mulher e criança do país consumiu em 1956.

Outro abalo surgiu com um estudo que afirma que o número de pizzarias na capital, Buenos Aires, logo vai superar o de churrascarias.

Como se isso não bastasse para abalar a psique nacional, neste ano, o país caiu para o 11º lugar -abaixo da Nova Zelândia e México- no ranking mundial de exportadores de carne bovina. Com isso, o jornal "La Nación" decretou "o fim do reinado".

POR QUÊ?

Os motivos da crise variam. Os preços do produto dispararam com a inflação.

Os pecuaristas alegam que o controle de preços do governo com o objetivo de impedir queda ainda maior no consumo interno causaram caos no setor porque tornam muito dispendiosa a manutenção de grandes rebanhos.

Outros, tendo em vista a crescente demanda chinesa por grãos, dizem que compensa mais plantar soja.

Em um açougue portenho, por exemplo, o corte "quadril" teve alta de 90% (para US$ 12,75 o quilo).

"Estamos vendo um declínio histórico no setor de carne bovina", afirma Ernesto Ambrosetti, economista da Sociedade Rural Argentina, a maior associação de agricultores do país.

Há ainda quem veja a queda do consumo como prova de uma mudança de paradigma: os argentinos estariam optando por uma dieta mais variada e saudável, com carne de aves e mais vegetais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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