Folha de S. Paulo


Estilo cordial do Gigetto influencia casas

O centro de São Paulo, no bairro da Bela Vista, é reduto das primeiras cantinas da cidade. Uma delas, porém, destacou-se das demais: o Gigetto, inaugurado em 1938.

Reduto de artistas e intelectuais, o restaurante ocupava originalmente um casarão na rua Nestor Pestana, a poucos passos do Teatro Cultura Artística, e notabilizou-se pelo clima festivo e informal que avançava madrugada adentro.

Juca Varella/Folhapress
Giovanni Bruno, no seu último dia no Gigetto, em 1967
Giovanni Bruno, no seu último dia no Gigetto, em 1967

O ambiente era dos mais ruidosos e a cozinha preparava de um tudo: tinha pizza, virado à paulista, galeto, lasanha e bacalhau. Apesar de generalista, a casa é considerada o berço da cultura cantineira na cidade por obra de um jovem imigrante italiano, Giovanni Bruno, contratado em 1950, aos 13 anos, como ajudante geral.

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Bruno chegou ao posto de garçom mais popular da casa, amigo de celebridades como Procópio Ferreira e Benedito Ruy Barbosa. E 17 anos depois, quando deixou o emprego para abrir o próprio negócio, a extinta Cantina do Júlio, fez com que o modelo de serviço, cordial sem formalidades, gerasse uma linhagem de filhotes em São Paulo.

Dos cinco restaurantes que Bruno abriu desde 1967, todos fecharam, exceto a cantina Il Sogno de Anarello, na Vila Mariana, inaugurada em 1984 e ainda em atividade. Seu estilo peculiar fez escola. "Na Cantina do Júlio, pendurei minhas primeiras camisas de futebol: uma do Roma, outra do Fiorentina e uma do Ferroviária de Araraquara, presente do Ignacio de Loyola Brandão", recorda.

O rol de ex-funcionários e ex-subordinados de Bruno explica por que as semelhanças entre as casas não são meras coincidências. Um dos mais ilustres foi Pier Luigi Grandi, o Piero, que deixou seu nome em uma série de cantinas pela cidade -as duas remanescentes, Cantina do Piero e L'Osteria do Piero, estão hoje nas mãos da terceira geração da família e mantêm as camisas de futebol pendentes no teto.

Bruno ainda foi chefe de João Lellis, criador da Lellis Trattoria, e patrão de Severino Barbosa da Silva, fundador da Taberna do Sargento.

"O Gigetto deu origem a meia São Paulo", resume Giovanni Bruno, que aos 78 anos ainda veste terno e gravata, todas as noites, para receber a clientela no Il Sogno di Anarello.

Para se ter uma ideia de sua popularidade, basta conferir o nome da rua da Vila Mariana onde fica a cantina: foi rebatizada com o mesmo nome do restaurante, homenagem conferida pelo ex-prefeito (e ex-cliente) Jânio Quadros.


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