Restaurantes que oferecem aos clientes uma oportunidade de explorar, pelo tempo de uma refeição, como é ser cego, não são propriamente novidade.
Mas algumas casas começaram, recentemente, a turbinar a experiência: além do breu ambiente e das vendas nos comensais, elas usam cozinheiros e garçons cegos.
Na Argentina, a ONG Audela, que trabalha com deficientes visuais, inaugurou, em outubro passado, a unidade móvel de seu restaurante El Gallito Ciego (o galinho cego).
Um ônibus adaptado percorre o país e abriga até 25 pessoas por refeição --ela inclui entrada, prato, sobremesa e uma taça de vinho, e custa 180 pesos argentinos por pessoa, cerca de R$ 75.
"Buscamos conscientizar e sensibilizar as pessoas para a problemática da integração social de deficientes visuais, mas também capacitar e inserir os cegos no mercado de trabalho", explica Magdalena Palenque, coordenadora do restaurante.
Dezoito clientes da ONG passaram por cursos no Instituto Argentino de Gastronomia, e oito deles trabalham no Gallito Ciego atualmente.
São chefs e garçons que, além de servir, também servem de guia para os clientes.
Na Alemanha, o Unsicht-bar, com unidades em Berlim, Hamburgo e Colônia, também emprega pessoas cegas ou com deficiência visual severa --aqui, apenas no salão.
Os garçons, como na Argentina, recepcionam os convidados, levam-nos à mesa e explicam a disposição dos objetos. Os pratos custam entre 40,50 e 61,50 euros (R$ 116 a 176).
No Brasil
Ainda que restaurantes brasileiros não trabalhem exclusivamente com funcionários cegos, como é o caso do argentino Gallito Ciego e do alemão Unsicht-bar, a experiência de fazer refeições às cegas já existe.
O Ateliê no Escuro, iniciativa de duas psicólogas de São Paulo, organizar jantares à luz de velas, mas com comensais completamente vendados --os R$ 150 por pessoa incluem coquetel e menu degustação de quatro pratos e vinhos.
"Queremos levantar a percepção de quanto estamos ausentes dos nossos sentidos", diz uma das sócias, Elis Feldman.
A próxima edição está agendada para o dia 23 de julho, no bar Consagrado, no Itaim.