Folha de S. Paulo


Prêmio ao Celler é reverência à memória com ares modernos

A chegada do Celler ao topo da lista dos 50 melhores restaurantes do mundo não chega a ser uma surpresa.

Mostra que, mesmo uma enquete como essa, com grande grau de imprevisibilidade (são mais de 900 votantes espalhados pelo mundo, sem critérios rígidos para definir seu voto), tem um certo norte, mesmo que não necessariamente o mesmo de outros guias e listas.

O carisma e o talento de Alex Atala, aliado à simpatia que os chefs têm por ele (e se transformou em torcida pelo mundo, repercutida pela imprensa), criaram a expectativa de que o brasileiro fosse para o pódio.

No fundo, pouca coisa mudou: o D.O.M. continua entre os mais festejados do mundo.

Passar de quarto para sexto não significa mudança, assim como a Osteria Francescana, de Massimo Bottura, que era quarto, passou a quinto e agora é terceiro. Na prática, continua com o mesmo prestígio.

Para os irmãos Roca, tampouco ir de segundo para primeiro muda qualitativamente, mas, simbolicamente, tem grande peso, é claro.

Significa que a academia de votantes do prêmio segue reconhecendo a relevância da vanguarda da cozinha, melhor representada pela nova cozinha espanhola nos últimos anos.

Mas reverencia igualmente os valores que o Celler de Can Roca sempre decantou: a tradição e a memória. Que eles, obviamente, sempre entregaram a seus clientes numa embalagem pra lá de moderna.

E como ficam os cultuadores da pureza dos ingredientes, dos produtos locais, dos novos sabores que a natureza ainda está por nos revelar?

Estão ainda todos lá. René Redzepi e Alex Atala continuam nos "top 10"; o Brasil tem mais um entre os 50 (o Maní, com seus sabores brasileiros).

Os latino-americanos crescem em sua representação. A furiosa modernidade espanhola continua brilhando, mas o reinado do ingrediente também segue à espreita.

O crítico JOSIMAR MELO é presidente do júri do prêmio no Brasil


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