Minha segunda vez no El Celler de Can Roca, em Girona, duas horas ao norte de Barcelona, foi em um almoço em 2010, quando passei cinco horas à mesa e provei 22 pequenos pratos e quase o mesmo número de vinhos.
Eu ri. E verti lágrimas duas vezes -a primeira, ao ser guiada em um passeio pela adega do restaurante guiado pelo próprio Josep Roca, com direito a apresentações audiovisuais acompanhando as poéticas e emocionantes explicações do sommelier.
O tranquilizante salão envidraçado forma uma espécie de triângulo em cujo centro há um canteiro de árvores rajadas pelos raios de sol e rodeadas de lascas de pedra cinza escuro. Belíssimo.
Parecia um balé a performance dos garçons, circulando silenciosamente. Ao explicar os pratos e servir os incontáveis vinhos, quebravam a formalidade com simpatia.
Ao provar o primeiro aperitivo já impressionei-me com o capricho. Dos galhos de um lindo bonsai (de verdade!) pendiam azeitonas recheadas de anchovas, com fina crosta caramelada e quebradiça. Era um cartão de boas-vindas comestível, que representava o salgado (domínio de Joan Roca) e o doce (do qual se encarrega o caçula Jordi Roca).
Fizeram parte do menu um bellini (coquetel de champanhe e purê de pêssegos) comestível, em forma de bolotas vermelhas, e ostras com gengibre, abacaxi, limão confit, especiarias e borbulhas de cava servidas em uma escultura em vidro, que parecia uma garrafa de vinho partida ao meio.
Não houve sequer um prato mais ou menos: tudo impecável, andando perfeitamente na fina linha que divide classicismo e vanguarda.
VALORES E RESERVAS
O menu de sete etapas do El Celler de Can Roca custa € 135 (cerca de R$ 350). Fazem parte itens como linguado na brasa com azeite de oliva, pinhões, erva-doce, tangerina e laranja e cordeiro com pão de tomate e purê de alho. É preciso fazer reserva com sete meses de antecedência, em média.