Folha de S. Paulo


Criadores do site BoicotaSP respondem críticas de Olivier Anquier

Em artigo publicado na última segunda-feira (22) na Folha, o padeiro e "restaurateur" Olivier Anquier criticou o site BoicotaSP, que reúne reclamações enviadas por usuários sobre preços de estabelecimentos paulistanos.

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"Com este texto, gostaria de demonstrar minha indignação e tristeza diante da atitude agressiva e covarde de um site de denúncia que aponta o dedo destrutivo para 'lugares que cobram demais e entregam de menos'", escreveu Anquier, citando a descrição do site.

Em resposta ao artigo, a equipe BoicotaSP enviou à Folha um texto em defesa do site. Leia abaixo.

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Senhor Olivier Anquier,

Chamar exercício democrático de covardia e neoterrorismo nos faz lembrar uma visão de mundo e de país da qual não gostamos de nos lembrar. Sim, pois o Boicota SP nada mais é do que uma plataforma em que os consumidores, os seus consumidores e de todos os estabelecimentos de São Paulo, podem colocar suas opiniões e discutir o custo de vida na cidade, em que alimentação pesa em mais de 30% no bolso de qualquer morador.

E uma plataforma social - como o Youtube ou o Facebook - é só um meio para a discussão do mundo. No BoicotaSP não demonizamos estabelecimentos; muito pelo contrário, abrimos igual espaço de resposta, estabelecendo um canal pluralista de discussão. Mais: é uma plataforma em que autorregulação dá o tom; não é difícil encontrar consumidores defendendo estabelecimentos e chefs, o que acaba por abrir a cabeça de todos os envolvidos.

Se o senhor se entristece, também nós nos entristecemos. Afinal, as críticas postadas no site poderiam (aliás, no nosso ponto de vista, DEVERIAM) ser respondidas pelos estabelecimentos aos seus clientes. Assim, olho no olho, conversa franca, humanos que habitam a mesma cidade. Um deles fez isso e angariou mais consumidores para o seu negócio. O que o BoicotaSP busca é essa conversa sobre as possibilidades de melhorar a cidade.

Mas, o que temos visto, no polêmico frigir dos ovos, é uma postura refratária por parte dos estabelecimentos, como a que você colocou em seu texto. São muitas justificativas retóricas e pouquíssima conversa de igual para igual.

Ora, como poderemos abrir um debate e melhorar uma cidade fantástica como São Paulo se em vez de responder aos próprios clientes com transparência e boa vontade (lembrando que somos o meio, não o fim), os restaurantes decidem que é mais válido matar o mensageiro?

Não existe terrorismo na verdade individual e no bolso de cada um dos paulistanos que hoje sofrem com uma cidade inflacionada, com margens abusivas e outros descalabros - está tudo lá exposto. Você pagaria com prazer R$ 18 em um refrigerante 2L? Ou R$ 11 por um picolé? Talvez faça sentido pagar R$ 5,00 para imprimir um ingresso na sua própria casa? - lembrando que os 'boicotes' não se restingem a restaurantes.

E o que os consumidores de SP estão questionando é se o fato de se cobrar quase 5% de um salário mínimo em dois ovos, uma concha de arroz e um punhado de couve em um chamado PF "premium" torna a cidade mais internacional ou ajuda a inviabilizá-la, inflacionando todos os preços de uma determinada região. É um questionamento válido, democrático. Chamar isso de caça às bruxas ou terrorismo é quase chamar o consumidor de pouco inteligente. E garantimos: visite nossas presenças sociais e terá uma surpresa com o nível de alguns debates.

Por fim, buscando em seu próprio texto a resposta para a discussão: Vamos construir uma cidade melhor, com preços justos, acessível a todos? Não é do interesse do senhor? Tudo bem, enquanto isso, a gente se vira, valorizando o consumidor com três ideias básicas: a liberdade de poder discutir a própria cidade e seus custos, a igualdade entre eles e os estabelecimentos que frequentam (um não deve ser refém do outro) e, quem sabe, atingirmos a tão valorosa fraternidade entre quem consome e quem produz, todos caminhando na mesma direção: um país melhor para todos.

Acho que o senhor sabe muito bem o quanto esses três itens são fundamentais para construir um país e um mundo melhor, não?


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