Folha de S. Paulo


No sul de Portugal, chefs de São Paulo saem à caça de fungo comestível

O segundo dia da viagem dos chefs Helena Rizzo, Daniel Redondo (Maní) e Tsuyoshi Murakami (Kinoshita) por Portugal foi marcado por muita (muita mesmo!) comida. Eles estão no país para o evento Portugal dos Sabores (leia mais aqui ).

O chef estrelado José Avillez, dos restaurantes Belcanto e Cantinho do Avillez, ambos em Lisboa, acompanhou as atividades do dia. A primeira foi uma caça às túberas alentejanas, um fungo da região de Mértola. À frente, para ensinar a encontrá-las, Anaisa Anunciação Sousa, 69, e Catarina Augusta de Sousa, 78.

A saída à campo para ir em busca das túberas lembra uma caça às trufas –mas sem animais para farejá-las. As instruções eram muito simples: num campo aberto, tomado por lindas flores parecidas com pequenas margaridas, o "caçador" observa a terra. Se ela estiver rachada e um pouco levantada, podem estar lá as cobiçadas túberas! Na prática, só mesmo muitos anos de experiência para conseguir distingui-las das pedras sem a ajuda da dupla Anaisa e Catarina.

Elas podem levar até dois dias para reunir um quilo de túberas –que costumam vender na estrada por 20 euros (o quilo). O chef Murakami se encantou com o fungo da família das trufas. "É bem mais delicada que uma trufa. O sabor, apesar de muito suave, é persistente", disse ao experimentar, ali mesmo no campo.

Na noite de hoje, quando chefs brasileiros vão preparar o jantar, Helena Rizzo deve usar as túberas que o grupo encontrou ontem em um prato de ovo com pupunha. Foi a primeira vez que os chefs brasileiros tiveram contato com o ingrediente.

DA CAÇA AO ALMOÇO E DO ALMOÇO AO JANTAR

Da caça às túberas, o grupo seguiu até a Herdade da Malhadinha Nova, em Albernoa, no Baixo Alentejo, para o almoço. Entre os pratos preparados pelo chef Joachin Koerper, foram servidos ovos com saladinha de ervas, açorda de bacalhau alentejana com coentro fresco e creme brullé de tangerina com sorvete de noz.

O almoço, harmonizado com os vinhos produzidos ali mesmo na herdade, durou cerca de três horas. E teve a presença do chef austríaco Hans Neurer, que saiu antes do término para preparar o jantar em seu duas-estrelas "Michelin" Ocean, dentro do resort Vila Vita. De Albernoa a Alporchinhos, onde fica o hotel, foram quase duas horas de viagem. Era o prazo para o grupo fazer a digestão antes de recomeçar a maratona gastronômica por mais oito pratos.

Todos –chefs e jornalistas– chegaram ao restaurante sem fome. O casal Helena Rizzo e Daniel Redondo, hospedados no hotel, puderam rapidamente tomar banho e trocar de roupa. O resto da turma entrou no duas-estrelas com os mesmos trajes da caça às túberas. E o pior: sem fome.

Ao ver o menu que revelava a sequência de pratos que estava sobre as mesas, preocupação: como comer mais depois de ter passado o dia comendo? Preocupação que durou pouco: o chef Hans Neurer serviu pratos delicados, de cozimento perfeito e ingredientes fresquíssimos, que fez com que um jornalista português se deslocasse até a cozinha para avisar que a fome de todos havia voltado como mágica.

Um jantar surpreendente, com pratos como lingueirão servido com pata negra e minipolvos, e tagliatelle de calamares, uni e café. A primeira sobremesa foi inusitada: um sorvete de azedas acompanhado de chocolate branco e com aquela parte das sementes do tomate que muita gente descarta no dia a dia –que o chef chama de "coração" do tomate no menu.

Foram mais três horas de comilança e uma certeza: se dependesse da turma que tomou conta do Ocean ontem, Hans teria todas as estrelas "Michelin" que quisesse.

Convite: A jornalista Priscila Pastre viajou a convite do Turismo de Portugal


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