Folha de S. Paulo


Roterdã merece mais do que um simples bate-volta

Robin Utrecht/AFP
Vista de Roterdã coberta pela neve no Natal
Vista de Roterdã coberta pela neve no Natal

Só de ler esse título, tenho certeza de que você pensou em Amsterdã. Claro: este é um caderno de viagens –e quem, como eu e você, sonha com destinos pelo mundo tem a capital da Holanda no topo da lista de desejos.

Dá pra entender. Com seus canais encantadores, arquitetura única, estilo de vida "liberal" e simpatia de seus habitantes, Amsterdã é mesmo cativante. Tanto que, nas sete vezes que estive no país, tudo o que fiz foi ficar rodando pela cidade.

Já passei por lá um Natal inesquecível, um fim de verão recheado de cultura e peguei aqueles canais completamente floridos na primavera. É praticamente impossível não se apaixonar por tudo aquilo.

Mas, a menos de uma hora de trem está escondido um outro tesouro que também termina com "dã". E na minha última visita aos holandeses, finalmente escolhi conhecer Roterdã! Como tudo o que a gente adia muito tempo pra fazer, o que eu me perguntava quando voltei de lá era: por que levei tanto tempo para ir até lá?

Sim, os encantos de Amsterdã são poderosos. Mas, quando estiver por lá, programe um dia (e uma noite, já explico!) para conhecer também Roterdã –nem que seja para você não sair do país com a impressão de que toda a paisagem holandesa se resume àquelas adoráveis fachadas nos canais da capital.

Muito pelo contrário, Roterdã é a visão do futuro. Fortemente bombardeada na Segunda Guerra Mundial, a cidade conserva pouco da sua história. Em compensação, suas construções modernas são o desejo de qualquer arquiteto ou cidadão que um dia quis morar em um outro tempo.

Da monumental ponte Erasmus ao impressionante Markthal –um estupendo prédio residencial que é também um vibrante mercado de comida (onde eu agora, num delírio de viajante, sonho em poder encher a geladeira todas as semanas)–, várias estruturas pelas ruas de Roterdã parecem desafios ao classicismo europeu.

A sensação é a de que a cidade deu carta branca a todo arquiteto que chegasse por lá com a pergunta: "E se...?". O resultado é um caleidoscópio de formas para os olhos e também para os outros sentidos.

Por exemplo, desafio você a entrar numa das Casas Cubo, outro dos marcos arquitetônicos da cidade, e não ficar desorientado: seu labirinto enlouquece!

Os museus são um capítulo à parte, seja na concepção de espaços totalmente novos (como é o caso do Kunsthal) ou na adaptação de prédios antigos, como o Boijmans Van Beuningem –onde pude finalmente ver de perto um quadro que, claro, é um dos meus favoritos de toda a história da arte: "A Torre de Babel", de Pieter Bruegel (1525-1569), inspirado na construção bíblica. Chorei de emoção diante dele.

Com muito pique, é possível conhecer os principais lugares em um dia –mas não pegue o último trem para Amsterdã. Fique pelo menos uma noite por lá e veja que, como toda cidade que é "a segunda opção de turismo" num país muito visitado, Roterdã se esforça para ter o melhor entretenimento. Especialmente na nova onda culinária, com chefs que chamam a atenção de toda a Europa.

E aí, forçado a escolher apenas um lugar para jantar nessa única noite na cidade, aonde você deve ir? No moderno Las Palmas (ao lado do incrível Museu de Fotografia e do hotel desenhado por Rem Koolhass) ou no estrelado FG, que tem duas estrelas Michelin?

Será que é melhor se programar para passar duas noites lá? A resposta rima com o nome da cidade: Dã... claro que sim!


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