Folha de S. Paulo


A melhor festa do mundo?

Se nada mudar entre o momento em que escrevo esta coluna e este em que você a lê, hoje, mais tarde, enquanto separa o melhor visual branco para vestir na virada, eu devo estar embarcando em um avião. Não será o primeiro Réveillon que passo numa aeronave –na verdade, será o segundo Ano-Novo que celebro sobre o Atlântico. Sozinho.

Estarei acompanhado de uma gentil tripulação –pelo menos a que estava comigo no avião na primeira situação dessas foi carinhosa o suficiente para, à meia-noite do horário do nosso local de partida, servir champanhe para todos os passageiros a bordo, independentemente de que classe eles viajavam. Algo que este (na época) mochileiro, que mal podia bancar um bilhete de econômica, nunca esqueceu...

Cheguei a hesitar antes de comprar a passagem, mas isso foi numa época em que meus programas de milhas ainda engatinhavam –e o orçamento para qualquer viagem era quase tão importante quanto o destino escolhido. O bilhete era de fato mais barato. E eu não ia perder aquela passagem mais barata por causa de um mero Réveillon dentro do avião...

Seja por uma "deformação" profissional (quem trabalha com jornalismo sempre tem que ter uma agenda "elástica") ou talvez por um desprendimento pessoal (sou famoso por esquecer aniversário de pessoas queridas), encontrar "a melhor festa do mundo" num dia como hoje nunca foi uma grande questão.

Aqui mesmo nesta coluna já contei dois deles, memoráveis –sem falar de outros ainda mais incríveis em Trafalgar Square, no Atacama, no meio do Pacífico e, é claro, de incontáveis festas na orla de Copacabana. Mas tenho cá uma meia dúzia (se não a dúzia inteira) de roubadas no dia 31 de dezembro pelo mundo.

Por exemplo, todo mundo sonha passar o Ano-Novo em Nova York, certo? Times Square, aquela coisa toda... Mas ninguém quer passar essa meia-noite num táxi amarelinho que está cobrando o dobro pela corrida e ainda por cima no trânsito mais fenomenal que é o que encontra quem quer atravessar Manhattan nessa noite. Eu e meu amigo calculamos mal a hora de pegar a condução e, enquanto a bola de cristal estava descendo na praça mais famosa do mundo, um virava para o outro de mau humor e bufava "Feliz Ano-Novo"...

Uma vez, em Katmandu, exaustos depois um trekking, eu e uma amiga fomos descansar um pouco antes de nos prepararmos para a ceia de Ano-Novo do hotel. Preciso dizer que só acordamos já no dia –ou, melhor, no ano– seguinte, com todos os outros amigos do grupo rindo da nossa preguiça?

(Também dormi "ligeiramente entorpecido" muito antes da meia-noite numa casa que aluguei com duas amigas em São Francisco da Aldeia, São Paulo, muito antes de o lugar se tornar tão fino –e caro–, mas mal me lembro dos detalhes dessa viagem para contar aqui...).

Em Copacabana mesmo, entre tantas noites estreladas de Ano-Novo, num ano em que ancorava a transmissão da festa de fim de ano para a TV, peguei um aguaceiro tão forte que, procurando refúgio numa pequena tenda de 1 metro quadrado, descobri que existe a chuva em "J" –que nem chega ao chão e já faz a curva para molhar você por baixo.

Agora pergunte-me se alguns desses anos que celebrei de maneira, digamos, "não tão feliz" foram ruins, com menos alegrias, menos aventuras, experiências, com menos lugares que tive vontade de conhecer. É claro que não! Porque, afinal de contas, é só uma festa.

Espero mesmo que a sua, de logo mais, seja um sucesso –qualquer que seja o lugar do mundo em que você esteja. E se não for? Bem, tem sempre outras festas. E outros destinos. Outras viagens. Outros voos. Como esse em que eu devo estar embarcando nesta noite...


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