Folha de S. Paulo


Boto fé no Adriano

Amigo torcedor, amigo secador, foi comovente ver o Adriano, não o imperador, mas o cidadão comum, na Vila Capanema, em Curitiba. Não pegou na bola, após dois anos sem vê-la, mas ela, seguramente, o reconheceu com votos bíblicos de quem recebe um filho pródigo.

Como sempre botei fé, mesmo após tantas recaídas, digo de novo: eu acredito. Agora com um cenário histórico perfeito. O Brasil se ressente de um atacante para a Copa, o Adriano quer retomar o seu império, o Felipão é bom de apostas –vide Ronaldo em 2002, após longa via-crúcis, com os joelhos estropiados tal um pagador de promessas.

Eu acredito com a fé do mais ingênuo dos fiéis de um templo pentecostal. Antes que o amigo levante o dedo com o seu "peraí" autoritário de boteco, vos digo: óbvio que o Fenômeno não estava à beira do abismo, como andou o menino da Vila Cruzeiro, R9 penava nas salas de cirurgia e nas clínicas.

Óbvio que o Fenômeno foi mais bola, um dos nossos melhores, como lembrou ontem o colega Leonardo Mendes Junior, da "Gazeta do Povo", ao traçar o mesmo paralelo. Bote óbvio nisso ad infinitum.

Enfim, é mais uma questão particularíssima de crença no homem, não nas ruínas do que sobrou do império. Crença não obrigatoriamente religiosa. Na vida deste fraco cronista o pecado sempre formigou na carne. As polaquinhas de Curitiba, as do livro do vampiro Dalton Trevisan, que o digam.

Em matéria de religião, sempre estive mais para o mantra de Santo Agostinho: "Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje". Não vale para você agora, meu caro Adriano (rs). Segura a onda. Para quem escreve é outra história, embora a ressaca, meu velho, depois dos 50, equivale a uma dengue existencialista.

Eu acredito, a torcida do Furacão igualmente, foi bonita a festa, pá, agradeça. Você, sem a sombra nababesca do império, como estivesse reconstruindo, tábua a tábua, prego a prego, um barraco na Vila Cruzeiro, dará a volta, um drible em si mesmo. O inimigo somos nós mesmos. O inferno nunca é o outro. Eu acredito. Habemus atacante.

TINGA

Com a bola, Mario Filho, o nome do Maraca, o irmão igualmente genial do tio Nelson: "Há quem ache que o futebol do passado é que era bom. De quando em quando a gente esbarra com um saudosista. Todos brancos, nenhum preto. Foi uma coisa que me intrigou a princípio. Por que o saudosista era sempre branco? ".

A vergonhosa atitude da torcida peruana com o gaúcho da vila Restinga me faz reler "O Negro no Futebol Brasileiro" (1947), que já começa, no gogó, com estas palavras. Um "Casa-Grande & Senzala" do futebol. O prefácio é de Gilberto Freyre. O que ocorreu no Peru era lei nestas plagas tupiniquins. Recomendo. #FechadoComOTinga.


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