Folha de S. Paulo


Meirelles e BC erram o alvo

Eduardo Anizelli/Folhapress
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, na reunião extraordinária para avaliar se mantém ou não a meta de inflação de 2018 em 4,5% e definir qual será o objetivo a ser perseguido pelo Banco Central em 2019.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn

Os economistas de Michel Temer erraram o alvo. O crescimento deste fim de ano deve ser menor que o previsto por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda. A inflação deve ficar muito abaixo da meta do Banco Central.

A conjunção de crescimento e inflação baixos demais é prato cheio para economistas críticos do governo, os de esquerda em particular.

Mais importantes que chutes errados do time temeriano, porém, são as consequências da recuperação retardada para a política econômica e eleitoral de 2018. Caso a economia continue pouco mais quente que um cadáver, que bicho vai dar?

Até outubro, Meirelles dizia em público que o crescimento deste último trimestre seria de 2,7% (em relação a 2016). Para chegar a tanto, será preciso um avanço de perto de 0,7% neste final de ano. Otimistas preveem 0,2%.

Na média, zero. Caso o ministro acerte, a gente pode pedir desculpas e se divertir avacalhando um erro estrambótico de previsão do mercado.

A meta de inflação é 4,5%, com piso de 3%. O IPCA deve fechar este ano por aí ou menos. Mais difícil que estimar o PIB é acertar essa meta, reconheça-se. Além do mais, o Banco Central pode argumentar que a política econômica vinha de caos e barbárie, que a baixa do preço dos alimentos foi surpresa grande, que a inflação deve voltar à meta em 2018 e que, enfim, política de juros leva um tempo assim não muito preciso para fazer efeito.

O teste do pudim vem agora. Espera-se que não esteja envenenado.

Para falar de besteira grossa, recorde-se que a conta dos favores do governismo para lobbies fortes e amigos em geral está para lá de R$ 30 bilhões. Seria o bastante para dobrar o valor do investimento "em obras" deste ano. Dada a nossa pindaíba, não é pouca porcaria.

Certos economistas dirão que essas minúcias não afetam o longo prazo etc. Não é bem assim. Exageros de curto prazo podem ter efeitos econômicos duradouros, além do risco de causarem revolta a ponto de fazer com que o povo eleja um boçal para presidente. Mas certos economistas parecem adeptos de uma seita pitagórica, amantes de números perfeitos no espaço sideral.

Neste mundo sublunar, os eleitores estão muito pessimistas. Se nada mais der errado, aquele crescimento de Meirelles só vai ocorrer no terceiro trimestre de 2018, estima o mercado. Em relação à miséria de hoje, 2,7% de crescimento melhoraria os humores, decerto. Mas seria tarde para ambições políticas de governistas ou de seus companheiros de viagem e, convém lembrar, melhora de PIB não se traduz de imediato na vida cotidiana e não determina voto, necessariamente.

Caso a economia ainda esteja fria na época de definição de candidaturas (março a junho), haverá problemas no "centro" (algo entre Lula e o ferrabrás das cavernas). Temer continuará a ser o beijo da morte nas urnas, o PSDB terá de explicar seu caso com o governo e forasteiros eleitorais podem se animar de novo.

Caso o PIB não reaja no primeiro semestre, a inflação permaneça baixa e o mercado não tenha faniquitos políticos, os economistas de Temer estarão com facas no pescoço e nenhum queijo na mão, sem remédios macroeconômicos e explicações no armário. Justificar a catatonia econômica será o menor de seus problemas.


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