Folha de S. Paulo


PIB depende de fé e da política ruim

Alguém se lembra dos planos de concessões, de rodovias, ferrovias, portos, e de privatizações de Michel Temer? Aqueles planos de colocar obras na rua, alguns ainda de 2016?

Quando se observa o desastre da construção civil, a gente se lembra dos planos. Obras, não há.

Neste ano, até setembro, a economia cresceu 0,6% em relação a 2016, soube-se pelo IBGE. Um nadica de nada. Mas a construção
civil ainda afunda 6,1%.

A ruína da construção civil refresca a memória de como o governo Temer preferiu gastar mal o dinheiro que nem tem. O investimento em obras (PAC) caiu 47% em um ano, da penúria de R$ 46 bilhões para a miséria de R$ 31 bilhões. Mas Temer deu aumento para o funcionalismo. A despesa com folha de pessoal aumentou R$ 24 bilhões nesse mesmo ano. O gasto extra com o funcionalismo seria bastante
para aumentar o investimento "em obras" em quase 80%.

Não seria grande coisa, 0,4% do PIB a mais. Mas vivemos de melhoras minúsculas, se tanto. Ficamos até aliviados com o crescimento de 0,1% do PIB no terceiro trimestre.

Sim, o resultado foi melhor do que parece; a demanda (consumo) cresceu mais do que o PIB (foi satisfeita com desova grande de estoques). Mas é um tico de nada, ainda.

Nas partes do PIB que ainda estão no vermelho, outro destaque ruim é o crédito ("atividades financeiras" etc.). O crédito bancário ainda vai encolher neste ano. As empresas estão ainda avariadas,
endividadas, e os bancos jogam na retranca, conjunção de dieta com falta de apetite. No ano que vem, dizem bancões, o crescimento
do crédito seria quase nenhum.

Sem investimento público, sem concessões de obras para empresas privadas e sem crédito para empresas, a princípio o crescimento do PIB dependerá outra vez de consumo.

Ou seja, dependerá da fé e da melhora do poder de compra dos
trabalhadores, que pode sofrer se não tivermos uma inflação muito comportada, pois o desemprego enorme (e talvez a reforma trabalhista) vai conter altas de salários. O consumo dependerá também do fim do processo de pagamento de dívidas pelas famílias e de uma melhorazinha no crédito para o consumidor,
que mal começou neste 2017.

Afora isso, o consumo dependeria de uma animação extraordinária de famílias que têm algum para gastar, mas ainda estariam
na retranca, com medo do futuro.

O medo do futuro, "incerteza", basicamente medo do salseiro político de 2018, pode travar investimentos das empresas, os quais já não seriam grande coisa, pois há capacidade ociosa e dívidas a pagar.

Parte do tumulto político e administrativo se deve ao fato de o governo Temer ter emperrado por causa de seus problemas renovados com a polícia. Parte do rebu se deve a este Congresso xucro e a seus bandos de gente ocupada em fugir da Justiça, de raras figuras ocupadas em dar um jeito no desastre das contas do governo. Parte da "incerteza", enfim, se deve a candidaturas presidenciais que propõem idiotices e desatinos para governar
o país a partir de 2019.

Devemos crescer 1% neste 2017. Para 2018, o jogo começa em 2,5%. A turumbamba política e a inércia de Temer nos investimentos ameaçam jogar esse número para baixo já no primeiro trimestre do ano que vem.


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