Folha de S. Paulo


Ninguém está agradando

"A melhora na economia vai ter impacto na eleição de 2018" é uma frase que não diz nada. Cada vez mais gente diz nadas desta espécie.

A perspectiva de crescimento entre 2% e 3% no ano que vem, alguma redução no desemprego e um segundo ano de aumento da renda média contribuiriam para tolher extremistas e dar alguma chance a um candidato do "status quo" (pelas "reformas", ao menos), diz a tese.

Pode ser. Ou não.

Para começar, o que quer dizer "melhora na economia" (ou piora)? FHC ganhou em 1998 com uma piora no PIB (o crescimento passou de 3,4% em 1997 para 0,3% no ano seguinte). Dilma Rousseff ganhou em 2010 em situação semelhante: o crescimento caiu de 3% de 2013 para 0,5% no ano eleitoral.

As melhorias acentuadas de renda nos anos anteriores ajudaram a manter a confiança do eleitorado no candidato à reeleição. Mas este ainda é comentário muito banal.

Considere-se. Na véspera da reeleição, Dilma tinha cerca de 40% de avaliação positiva nas pesquisas. Em março, minguara até 10%. O estelionato eleitoral da presidente reeleita destruiu sua reputação em três meses. "É a política, estúpido!"

A avaliação de Michel Temer piorou mais de março para cá, meses em que a atividade econômica pareceu sair do coma. Está certo, não é fácil ressuscitar o zumbi Temer, tido como menos confiável que Dilma.

As mudanças de prestígio, por sua vez, não são assim previsíveis. Dilma viu sua popularidade recorde ser talhada pela metade em um mês, junho de 2013. Aécio Neves saiu de quase presidente em outubro de 2014 e líder tucano e da derrubada de Dilma para a condição de pária. Causa tanta ou mais aversão que Temer ou Eduardo Cunha, abjeções quase absolutas.

IRA CRESCENTE

Mas o povo diz mais. Levantamento do Ipsos deste mês mostra revolta grande e crescente contra todos os pré-candidatos maiores a presidente, dos "tradicionais" aos "outsiders" (fora Lula, que teve melhorazinha).

Pesquisa do MDA para a Confederação Nacional dos Transportes revela mais ira crescente, na contramão da economia. Em setembro, 35,4% dos entrevistados achavam que a situação do emprego iria piorar (ante 30,6% em fevereiro); para 25,7%, haveria melhora (31,3% em fevereiro). A pesquisa registrou resultados na mesma direção para renda, saúde e educação e, em várias questões, enorme desesperança com os políticos.

Para 80%, Temer não "está fazendo as reformas de que o país precisa". Não é possível derivar desta resposta uma opinião do eleitorado sobre "as reformas" em geral, claro. Mas outras pesquisas registram rejeição enorme à reforma da Previdência (71%, no Datafolha de maio. Dois terços acham que a trabalhista favorece mais empresários do que empregados).

Fica evidente que o eleitorado espera alguma outra combinação de conversa política com resultados econômicos.

A conversa dos candidatos que apareceram não está agradando. A ira econômica e política ainda é grande. A reação política a melhoras na condição material de vida é incerta.

São muitas as combinações de variantes de debate político, candidaturas e tipos de resultado econômico que podem dar o jeitão geral da campanha eleitoral de 2018, que ainda está por inventar.


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