Folha de S. Paulo


Fazemos carros, compramos gasolina

ClélioTomaz/Divulgação
Fábrica da FCA, em Goiana (PE) dá início à produção do Jeep Renegade
Jeep Renegade é produzido em Goiana (PE)

É DIFÍCIL desviar a atenção enojada das malas dos R$ 51 milhões, das cafajestadas de Joesley Batista e das últimas notícias das megapiratarias dos Quadrilhões que se aboletaram nos governos. Mas vamos tentar.

Há algumas pequenas boas notícias por aí, no mundo real de quem trabalha, melhoras em vários setores da economia, que continuaram em agosto.

Há algumas esquisitices também. Por exemplo, o Brasil que agora compra mais carros fabrica cada vez menos combustíveis, o que derruba a média de produção da indústria, que se recupera ainda aos tropeços.

MONTADORAS LIDERAM

Alguns setores da economia saem do buraco, sujos de lama e alquebrados, mas saem.

Soube-se nesta semana que a produção de automóveis subiu 25% neste ano (na comparação com os sete primeiros meses de 2016). As vendas de automóveis nacionais (exportações mais mercado doméstico) cresceram 19%. As exportações de veículos tiram as montadoras do buraco até com certa rapidez.

A recuperação da indústria automobilística por ora carrega nas costas a melhora tímida da indústria de transformação, que voltou ao azul clarinho, quase desbotado, crescendo 0,2% até julho (o que não ocorria desde 2013).

O outro "pedaço" da indústria, a extrativa (basicamente ferro, petróleo e gás), com 11% do conjunto da produção industrial, cresceu 5,2%.

A de veículos (10% do total) cresceu sozinha 11% no ano. Observe-se que a essencial e grande indústria de produtos alimentícios (14% do total) ainda cai, 0,6%, um espanto.

COMBUSTÍVEIS SEM FOGO

A construção civil, que ainda demite e encolhe em ritmo de depressão, impede a recuperação de outros setores, como já se disse por aqui e alhures tantas vezes.

Esquisito mesmo é o colapso do que o IBGE chama de "Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis", no grosso a fabricação de combustíveis e lubrificantes.

O setor ainda despenca 7,1% no ano (lembre-se: a indústria de transformação na média cresceu 0,2% neste 2017). É um setor enorme, do tamanho da indústria de veículos. Tem peso bastante para puxar a produção industrial para baixo.

Uma olhada nas estatísticas da Agência Nacional do Petróleo mostra que a venda de combustíveis derivados de petróleo baixou menos de 0,5% no ano. Mas a produção caiu em torno de 6,5%, seja de derivados em geral ou de combustíveis.

A importação de derivados de petróleo aumentou 29%, bidu. Desconte-se que o ano passado foi fraco de importações. Mesmo assim, em relação a 2013, ano de pico de compras de derivados no exterior, o aumento é ainda de 14%.

Fabricamos mais carros, mas importamos a gasolina, por assim dizer.

É possível que a nova política de preços da Petrobras, com preços alinhados (ou mais que isso) aos do mercado internacional, tenha favorecido a importação.

Pode ser que exista importador vendendo combustível barato demais. Capacidade de produção, em tese, não falta. O preço da produção estaria tão ruim? Pouco competitivo? Ineficaz, em suma? Uma pergunta para a volta do feriadão.


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