Folha de S. Paulo


Temer, Dilma, Sarney e outras desgraças

Beto Barata - 31.mar.2015/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 31-03-2015: A presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e o ex-senador, José Sarney, durante cerimônia de posse do novo Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, no Palácio do Planalto. (Foto: Beto Barata/Folhapress, PODER)
A ex-presidente Dilma Rousseff, o então vice Michel Temer e o ex-presidente José Sarney

O cinismo duradouro produz indiferença, raiva passiva ou acaba por explodir em fúria?

É certo que se disseminou ainda mais a ideia de que a balança da Justiça tem dois pesos e duas medidas. A depender do caso, Dilma Rousseff ou Michel Temer, uma galinha pode ter o peso de uma pena.

A dúvida é acerca do efeito político da decisão do TSE, que aumentou a pilha de repulsa popular aos Poderes disso que chamamos de República, por conveniência.

"As ruas" estão vazias. Seus possíveis líderes estão escondidos ou incógnitos; há omissão da direita amarela às centrais sindicais. Por ora, o povo espera a encarnação de um salvador em 2018. Enquanto o santo não desce, no que prestar atenção?

PIB ZERO. As previsões de crescimento para 2017 caíram a zero. Inflação cadente e PIB nulo reanimaram expectativas de mais quedas de juros de curto prazo, o que pode ser apenas sinal de uma depressão econômica com tempero político.

GUERRA. A Procuradoria-Geral deve denunciar Temer sob a acusação de liderar esquema de levar dinheiro da JBS, "apenas". Não haveria mais novidades na manga dos procuradores.

CONTRA-ATAQUE. Temer vai ao pescoço do "sistema de Justiça", em parte em guerra incivil com o "sistema político". Atacar procuradores da Lava Jato será pouco. O governo já mostrou que tenta tocar fogo na JBS: nada vai ficar barato. Deve atacar juízes, superiores e inferiores. Tudo contra o chamado "Estado policial", como diz Gilmar Mendes.

SARNEYZAÇÃO? É a síndrome do governo que se assemelha ao dos anos finais de José Sarney (1985-1990). Os sintomas são ruína econômica em câmara lenta, deterioração de expectativas, governo em paralisia decisória, com autoridade minada por aliados ou pelo desfazimento da base política e da coalizão parlamentar; falência de um pacto de poder.

DILMIZAÇÃO? A degradação moral e política é extensa, mas Temer ainda é aceito como regente do reformismo liberal por certa elite. É primeiro-ministro de si mesmo, ainda com força no Congresso. Não parece ainda Sarney ou Dilma. Nem há coalizão para depô-lo -ao contrário.

O presidente decerto terá novas contas a pagar, pois o aluguel do Planalto ficou mais caro, o preço extra de evitar mais defecções na coalizão.

Com a caneta na mão, até Dilma levou PMDBs para um governo que já estertorava, em outubro de 2015 (caíram fora em abril de 2016). Mas Temer levará o quê com o apoio que adquirir? Só sobrevida? Reformas?

Há quem acredite, no governo e fora dele, que ainda pode brotar algo desse pântano, que o país toque a vida depois de um trimestre de crise e nojo extras.

PREVIDÊNCIA. O que sobrar da reforma fica para depois das batalhas judiciais, se e quando o governo garantir sua sobrevivência.

TUCANO ROÍDO. No seu mito de criação, o PSDB pariu-se como costela limpinha do PMDB. Na realidade de hoje, os tucanos podem acabar como costela roída pelos dentes podres do PMDB.

Mesmo se largarem Temer, ficarão com a morrinha deste governo, odor de falta de santidade que vão exalar até a eleição, que disputariam sem o apoio do PMDB, de resto. "Ficar pelas reformas e estabilidade do país", quase ficção, não resolve. Enfim, se empesteiam também com seus cadáveres insepultos.


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