Folha de S. Paulo


A guerra vai acabar, parece

Daniel Marenco - 17.jul/12/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 17-07-2012, 11h00: Especial
Linha de produção de caminhões em Resende (RJ)

A RECESSÃO deve acabar neste primeiro trimestre do ano. Pelo menos, a economia para de encolher no início de 2017.

Não era o que se dizia pouco antes do início do trimestre final de 2016? Sim. Mas deu chabu. Qual a diferença, agora?

Há indícios de estabilização aqui e ali, até na arruinada indústria, que em parte desapareceu como se o Brasil tivesse sofrido bombardeios. Há um e outro motivo para sustentar esperanças, impulsos reais.

A média nacional dos salários parou de cair em dezembro. Subiu 0,5%, acima da inflação, um nadinha de alta que não se via desde agosto de 2015, no entanto.

A inflação parou de comer os rendimentos do trabalho, que de resto sobem, em termos nominais, desde agosto de 2016 (de 5,2% para 7,2%, na média móvel trimestral). A inflação acumulada em 12 meses andava pelos 9% em agosto do ano passado; em dezembro, em 6,3%.

Em suma, salários nominais em alta e inflação em baixa dão, óbvio, em aumento real da renda. Pode tudo desandar de novo? Dado o desemprego ainda crescente, não é uma aposta irrealista dizer que o ritmo de aumento dos salários nominais vai cair. Parece apenas improvável.

O nível de produção da indústria regrediu a 2004. Caiu 19% desde o pico de junho de 2013. É uma devastação de guerra. Deve crescer pelo menos 1% em 2017, estagnação, na verdade. Mas seria o fim da guerra.

Em dezembro, a indústria voltou ao azul, na média trimestral de crescimento, assim como ocorrera no alarme falso de maio a julho do ano passado (antes disso, as fábricas estiveram no vermelho desde setembro de 2014). Será na melhor das hipóteses uma recuperação acidentada, de previsão controversa.

Os economistas dos dois maiores bancos do país têm estimativa contraditórias até sobre o que teria acontecido em janeiro.

"Os primeiros indicadores coincidentes (consumo de energia, importações e utilização da capacidade instalada) apontam para alta da produção industrial em janeiro", diziam os economistas do Itaú, nesta quarta-feira (1º).

"Os primeiros indicadores já conhecidos para janeiro apontam para reversão da melhora observada em dezembro, mesmo com a melhora da confiança", na opinião do pessoal do Bradesco, também de ontem.
Mas as estimativas dos dois bancões e as mais comuns apontam para recuperação nos próximos meses, ainda que aos tropeços.

Além de um provável fim da sangria nos salários médios, a economia deve se escorar na redução agora notável das taxas de juros.

Deve vir uma ajudazinha de quase 0,5% do PIB, dinheiro que deve sair dos saques das contas inativas do FGTS. Há um afundamento menos rápido das concessões de crédito bancário, ainda em ritmo de depressão, queda anual real de 15%. Mas em despiora.

Despiora é ainda o jeitão geral da coisa. As vendas de carros ainda caem no ritmo desastroso de 7,5% (janeiro de 2017 ante janeiro do ano passado), segundo dados da Fenabrave, a associação dos revendedores. No começo de 2016, caíam em marcha acelerada de 36%.

Como é mais que sabido, a política imunda e confusa do Brasil e Trump, o Huno, podem acabar com a nossa paz. Mas a guerra parece mesmo perto do fim.


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