Folha de S. Paulo


Temer, despachante das reformas

Pedro Ladeira - 14.dez.2012/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 14-12-2016, 10h00: O presidente Michel Temer, acompanhado do presidente do senado federal senador Renan Calheiros (PMDB-AL), durante solenidade de posse do novo presidente do TCU Raimundo Carreiro, que assume no lugar do ministro Aroldo Cedraz, no plenário do TCU. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O presidente Michel Temer durante solenidade de posse do novo presidente do TCU, Raimundo Carreiro

Janeiro costuma ser mês de devaneio para os governos. Mesmo em ano de chacinas ou enchentes, a pressão diminui. O governante esquece por um momento que pode ser deposto, imagina reformas e tem outros sonhos de grandeza.

Foi assim também com Michel Temer, que acaba de prometer sua quarta grande reforma, a tributária, zum-zum que não raro se ouve nos recessos político-burocráticos de verão (em alguns anos, é a vez da reforma política). A diferença é que a sobrevida de Temer depende da promessa e da aprovação de reformas.

O presidente é impopular; dois terços dos eleitores querem escolher um substituto já. Vive sob ameaça de decapitação no TSE e de ver todo o seu círculo palaciano demitido, investigado ou até preso.

O apoio do governo está no colegiado informal de lideranças judiciais e políticas que vai lhe dando ou tirando corda, a depender em parte das variações de humor da elite econômica mais vocal, que quer "reformas", e da temperatura das "ruas", que anda baixa.

Temer foge para a frente, como se escrevia aqui faz menos de um mês, quando o presidente se engajou na reforma trabalhista. Procura tornar-se indispensável, vetor de reformas encalhadas, a maioria delas faz décadas.

Foi bem-sucedido no ensaio geral, em mudanças mais incompreensíveis para o povo comum (leis do petróleo, das estatais e, caso maior, no "teto" de gastos, entre outras).

Mudar a Previdência, as leis do trabalho e as finanças de Estados e empresas (ICMS) tende a ser mais revolucionário, tiro, pancada e bomba. Não quer dizer que vá fracassar, embora mudanças em impostos, ainda mais no ICMS dos Estados falidos, sejam quase inviáveis em tempos de receita baixa. No entanto, um programa de médio prazo pode colar.

Temer tem o apoio do empresariado mais vocal (que está longe de ser uma frente, mesmo frouxa). Não é lá adesão, menos ainda satisfeita ou entusiástica: "É o que temos". Porém, o apoio acaba de ser reiterado por gente brasileira de grossa fortuna, lá em Davos. Em felicitações recentes devidas à queda agora acelerada da taxa de juros.

Conviria prestar atenção. Por um bom tempo ainda, a queda da Selic será imperceptível, se tanto, para o povo e seus crediários e parcelamentos. Talvez tenha efeitos visíveis na atividade econômica lá pelo segundo semestre. Mas o corte de uns dois pontos da taxa "básica" de juros até abril vai fazer diferença importante para as empresas e suas finanças avariadas.

Nas poucas conversas deste janeiro com gente de empresa, deu para sentir um clima melhor, pelo menos uma sensação de que o tempo da desgraça vai, enfim, acabar. Na política, o governo parece estar desarmando o que poderia ser uma crise no Congresso, devido à eleição da presidência da Câmara.

Quanto aos casos de polícia no governo, a situação é grave e fora do controle. Ainda assim, há muita gente graúda para quem o importante é que "sobre o Temer", mesmo sozinho. O presidente ficaria como o despachante das reformas.

Ninguém sabe muito bem dizer quem seriam os responsáveis pela articulação no Congresso desse governo "Temer só". Ouve-se, por vezes, um "com o Itamar [Franco] foi assim, ele ficou lá como um dois de paus". Quem ou o que seria o FHC?


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