Folha de S. Paulo


Temer precisa fazer um trabalho

Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente Michel Temer (PMDB) fala sobre as reformas durante os sete meses de seu governo, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF)
Presidente Michel Temer fala sobre as reformas durante os sete meses de seu governo, em Brasília

O número de pessoas empregadas ainda diminui. Mesmo uma notícia menos ruinzinha sobre o mercado de trabalho ainda é incerta: talvez a velocidade com que os empregos desaparecem comece a baixar. Baixou em novembro, mas não é certo que continue assim.

Considerados os ritmos do mercado de trabalho e fatores econômicos que podem dar jeito nessa marcha à ré, é improvável que a quantidade de empregos pare de cair antes de abril.

É horrível não ter coisa melhor a dizer no último dia útil deste ano sinistro de 2016.

Mas é o que indicam os dados do mercado de trabalho até novembro, do IBGE (Pnad Contínua) e do Caged (o registro do emprego com carteira assinada, do Ministério do Trabalho).

A taxa de desemprego, porém, continua a subir. Não deve parar antes de metade do ano que vem. Taxa de desemprego é a proporção do número de pessoas que procuraram trabalho e não acharam.

Mesmo que o número de pessoas empregadas pare de diminuir, a taxa de desemprego continuará aumentando, provavelmente, pois mais gente entra no mercado, por estar em idade de trabalhar ou porque procura dar ajuda na renda da família.

O número de pessoas com trabalho diminuiu ainda 2,11% em relação a novembro de 2015, 1,9 milhão de empregos a menos. No grupo de quem tem carteira assinada, a baixa foi de 3,7%.

Desde 2014, último ano em que houve progresso no trabalho, o número de empregos baixou 2,7%. No mercado formal, com carteira, a baixa foi de 6,7% (dados do IBGE) ou de 7,1% (dados do Caged). Regressão parecida com a do PIB no período, de uns 7,4%. Em suma, há menos e piores empregos.

O desastre maior ainda acontece nos empregos com carteira assinada da construção civil, que desaparecem ao ritmo de 14% ao ano.

O país das obras parou ainda mais. Houve o fim de um período de alta de investimentos. Veio a falência dos governos, que interromperam obras, mal planejadas, no meio do caminho, ou ficaram sem dinheiro para quase todas. As quadrilhas de empreiteiras e o grande saque da Petrobras, que deram na Lava Jato, arruinaram o resto.

Por que a ênfase no investimento público e na construção civil?

Porque os excessos, as obras mal planejadas, as incompetências no investimento e as bandidagens grossas que ocorreram sob Lula 2 e Dilma 1 são um fator importante desta recessão monstruosa de muitas cabeças. Obras mal escolhidas, decididas a mando de corruptos ou inúteis (estádios, ferrovias para lugar nenhum, refinarias de prejuízo eterno).

Porque a retomada das obras é um caminho restante para a recuperação do crescimento, no curto prazo. Como já se escreveu aqui tantas vezes, do investimento público em obras é que não virá essa retomada. Os governos quebraram de modo operístico, muitas vezes criminoso.

Novas obras de infraestrutura virão apenas de investimento privado em concessões públicas de estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Dependem, porém de decisões de governo.

O governo de Michel Temer está encalacrado no assunto, enrolou-se com essa corda e corre o risco de se enforcar. O maior pacote de medidas de estímulo seria o de obras bem planejadas na rua. Até agora, nem sinal de planos.


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