Folha de S. Paulo


Casta na lama, mercado nas nuvens

Joel Silva / Folhapress
ORG XMIT: 341101_1.tif SAO PAULO,SP,BRASIL, 17:00Hs. Opreadores da XP Investimentos, acompanham fechamneto da bolsa de valores a cinco horas da tarde, na Av BrIg. Faria Lima, zona Oeste de Sao Paulo. A bolsa de Sao Paulo, BOVESPA fechou em queda de menos 3% hoje.. ( Foto Joel Silva / Folhapress ***EXCLUSIVO FOLHA*** DINHEIRO****
Operadores acompanham fechamento da Bolsa

A casta política e judiciária afundava na lama onde rola faz mais de três anos. Os operadores dos donos do dinheiro pareciam calmos, porém. Alguns, serenos na conversa. A maioria, relaxada nas ações.

Do outro lado do balcão dos negócios, das empresas, havia boatos de que haverá ajudas do governo. Mais dinheiro de curto prazo do BNDES para empresas. Um refinanciamento monstro de dívidas das firmas com o fisco, quase uma moratória com calote consentido.

Senadores relatavam telefonemas ansiosos de amigos donos do dinheiro. Na praça do mercado, o povo das finanças agia como se não houvesse amanhã –talvez porque não haja mesmo.

Pelo menos nesta terça (6), taxas de juros de curto prazo caíam, o dólar se comportava nas alturas para onde voltou desde Trump e a volta do salseiro político mais intenso. Na Bolsa, se faziam negócios felizes, animados com as perspectivas desta ou daquela empresa, JBS ou Petrobras.

Prestava-se mais atenção na exposição de motivos do Banco Central para a decisão dos juros da semana passada. O pessoal do BC pareceu reafirmar que os juros devem baixar rapidamente a partir de janeiro (em vez da esmola de 0,25 ponto percentual por vez, duas esmolas).

Na praça, os juros reais de curto prazo subiram, faz mês e meio, e ficaram por aí. Até agora, o BC insistira para que ficassem mais altos, confrontando expectativas do mercado. "Agora, vai." E a "incerteza política"? Ficou meio para escanteio, parece, por ora, dados os temores depressão.

Mesmo observadores mais reputados da economia e das finanças observavam o sururu político com calma, pelo menos nesta terça. Dado o tamanho do desastre e do que, imaginam, seja um roteiro inevitável de durezas até 2018, pareciam achar que a anomia pavorosa e repulsiva de ontem em Brasília não fez por merecer alterações assustadas nos preços dos ativos financeiros.

Alguns operadores das finanças diziam acreditar que "existe um consenso entre as lideranças do Senado" em relação às "reformas" (aprovação da PEC do teto de gastos federais, "alguma coisa" na Previdência). Com ou sem Renan Calheiros, há uma "maioria orgânica", cerca de 60 senadores comprometidos com o Plano Temer.

No final da tarde, algumas dessas mesmas pessoas mandavam mensagens de celular comentando ou "certificando" boatos de que governo alertava grandes financistas para o fato de que o "teto" poderia ficar para 2017, mas será aprovado.

Mais, se dizia que o governo deve "entrar para valer" na reforma trabalhista, mesmo enquanto tramite a reforma da Previdência.

De onde viria o dinheiro do BNDES para ajudar o refinanciamento de empresas? O governo (seus economistas) negaram esse boato do "mercado".

De onde viria o dinheiro do novo Refis para empresas devedoras da Receita? Gente do governo, mas não os economistas de Temer, diz que esse dinheiro "já não está entrando, mas o Refis vai ajudar que a arrecadação se recupere". Isto é, refinanciamentos a perder de vista e perdões do principal das dívidas dariam fôlego financeiro a empresas endividadas, o que ajudaria a "retomada".

Assim, numa tranquilidade superficial algo doida, se passou a tarde financeira de um dia em que o Brasil namorava a anomia.


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