Folha de S. Paulo


Uma esmola de juros para o PIB

O Banco Central deu uma pista de que a taxa de juros deve cair mais rápido daqui em diante. No meio do deserto, foi um copo d'água.

A economia está um lixo tamanho que a inflação pode surpreender para baixo. Caso as "reformas" (corte de gastos, no caso) sobrevivam ao lixo de Brasília e Trump não pinte e borde tão cedo, a taxa "básica" da economia pode ser talhada em ritmo menos desesperador de lento.

O BC, claro, disse a coisa em outros termos, na exposição de motivos que soltou nesta quarta (30), depois de cortar a cutícula da Selic em 0,25 ponto. Assim:

"O conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom sugere atividade econômica aquém do esperado no curto prazo, o que induziu reduções das projeções para o PIB em 2016 e 2017. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica pode ser mais demorada e gradual que a antecipada previamente".

Também nesta quarta-feira soubemos de mais um crescimento do PIB bem abaixo de zero. Há gente razoável para quem a economia talvez deixe de encolher neste trimestre final do ano. Há otimistas que ontem aderiram aos prognósticos lúgubres –recuperação, apenas nas festas juninas de 2017.

Em resumo, as estimativas para 2017 vão ficando entre estagnação e recessão, em termos per capita (expansão do PIB de no máximo 1%).

Pode estar tudo errado de novo. Ainda em junho de 2015, se acreditava em recessão de apenas 1,5%, na mediana das previsões do dito mercado. Foi de 3,8%.

Fora do mundo encantado das estimativas estatísticas, há também incerteza de monta e de monte.

O efeito do "teto" de gastos será muito pouco caso não se aprove reforma da Previdência dura. Nessa baderna imunda no Congresso, com perspectiva de outro ano de estagnação econômica, com desemprego maior, qual será o clima para votar redução de direitos? Até economistas ditos ortodoxos e otimistas começam a se apavorar.

No balanço do PIB que saiu nesta quarta-feira, não apareceu novidade maior, se alguma.

De menos deprimente, é preciso notar que sim, se chegou ao fundo do poço em algum momento entre o primeiro e o segundo trimestres. Desolador, mas esperado, o investimento não reage. Assim, a construção civil não sai da depressão, ao contrário. Continua a ser o pior setor da indústria, que ao menos despiora, no conjunto.

O impulso do comércio externo era pouco, se acabou e não deve ajudar no ano que vem. Era pouco, mas exportações crescendo mais que importações evitaram desastre maior. O problema é que houve depressão de importações, não progresso de vendas no exterior. As importações de máquinas e matérias-primas vão subir assim que tivermos uns meses melhorzinhos.

Não há quase instrumento nenhum para estimular a economia. O governo abriu mão de certos instrumentos, não consegue manejar os que sobraram, como investimento privado em infraestrutura (concessões e privatizações).

Quanto ao Congresso, uma ou outra criatura sã e prestante que restou por ali diz que, talvez, a baderna imunda não prejudique a votação do "ajuste", Previdência inclusive.

No mais, quanto a 2017, sobraram a sorte e a taxa de juros. O Banco Central, devagar e sempre.


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