Folha de S. Paulo


Pessimismo volta com os panetones

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Se precisar voltar a trabalhar o quanto antes recebendo menos, escolha funções mais desafiadoras
Clima não será bom com desemprego em alta até meados de 2017

Quanto mais 2017 se aproxima, mais se menciona 2018 nas conversas de gente da finança e entre grandes empresários.

Ouve-se cada vez mais a opinião resignada de que o crescimento do ano que vem pouco passa de 1%. É quase estagnação, pois o número de brasileiros aumentará quase esse tanto. A renda por cabeça ficará quase na mesma, depois de ter diminuído uns 9% entre 2014 e 2016.

Estimativas econômicas são o que sabemos. A seis meses de distância, previsões para o PIB já começam a sumir na névoa da imprecisão. Mas o balanço entre as possibilidades de surpresas positivas e negativas tem parecido mais preocupante.

A confirmar a quase estagnação de 2017, o governo terá mais dificuldade de fechar suas contas, de reduzir seu deficit.

Talvez tenha de gastar até abaixo do "teto". Dado de resto que a despesa da Previdência crescerá, torna-se provável que tenha de reduzir mais o investimento federal "em obras".

O ritmo da queda da taxa de juros está sub judice. No mínimo, quanto a taxas de curto prazo, depende de surpresa positiva maior na inflação, resistente, e de "reformas" (no caso, mudanças duradouras na perspectiva de gasto e dívida públicas). De qualquer modo, teria mais efeito para o final do ano que vem.

Gente do governo mais e mais fala de "reforma da Previdência possível". Isto é, a contenção de despesa será menor. Já seria quase nula no curto prazo. Mas a reforma "possível" e outros problemas para fechar as contas não dizem boa coisa sobre o futuro da percepção do "risco Brasil" (o que tem custo, em termos de juros e nível de investimento).

Apesar da melhora, a confiança de consumidores e empresários ainda está em nível pessimista ou perto daí. Pior, não teve efeito perceptível na economia, um motivo do desapontamento recente com a lerdeza econômica.

A maior esperança de investimento está em obras de infraestrutura, um raro impulso restante para tirar a economia do buraco. Dependem da solução de problemas de financiamento, regras e projetos. O governo está encalacrado nisso.

Parte importante do dinheiro para infraestrutura viria do exterior, mas não se sabe como resolver o problema do seguro para as variações do dólar (risco cambial), de garantias e, enfim, nem se sabe a quantas andam os projetos.

Os bancos maiores ainda não fecharam seus orçamentos para 2017. Haverá algum crescimento real do crédito, mas a prudência aumentou. Os bancos públicos, estressados nos anos Dilma Rousseff, devem ser ainda mais econômicos.

A catástrofe do Rio e outras menos estrepitosas deve ter efeito na retomada, embora pouco se fale disso.

Sim, os estoques das empresas parecem baixar, mas não se sabe bem quando isso terá efeito na produção (isto é: a baixa de estoques, dado o ritmo de consumo, vai exigir mais produção quando?).

Sim, parecem melhorar os indicadores de endividamento de empresas e famílias. A inflação, apesar de alta, cai, o que deve ter algum efeito em renda e ânimo.

O clima na rua não será bom, porém, com desemprego em alta até meados de 2017. O Congresso pode estar um tumulto, fugindo da polícia. Não soa bem para o futuro das "reformas".

Nada está escrito, não é destino, dá para mudar. Mas está difícil.


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