Folha de S. Paulo


Eleição de derrota e pouca vitória

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 27.10.16 11h O prefeito eleito de SP, Joao Doria (PSDB), anuncia secretários (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, COTIDIANO)
O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, do PSDB

No ritmo desembestado da ruína política e econômica do Brasil, a eleição que terminou na semana passada começa a parecer meio distante. As certezas sobre o que aconteceu também.

Com a exceção da ruína estrepitosa do PT, o teor de várias das "mensagens das urnas" ainda parece escrito na areia.
A ideia de que a "direita venceu" precisa ser matizada. Não houve avanços de partidos "de direita" tais como aqueles das cavalgadas petistas do início do século.

Mais difícil ainda dizer que o eleitorado se direitizou. Como, aliás, tivesse se esquerdizado: basta ver a virada de votos de Dilma-2012 para João Doria (PSDB) em São Paulo e Marcelo Crivella (PRB) no Rio.

A tese de que a fragmentação partidária aumentou é mais ou menos verdade a depender da perspectiva ou do foco.

Para começar com o menos incerto, considere-se de modo mais preciso o que aconteceu com o PT. O partido foi varrido das maiores cidades, mais ainda que no conjunto do país. Venceu apenas 2% das 147 cidades com mais de 200 mil habitantes; no total nacional, ficou com 4,7% do municípios.

Essas cidades maiores abrigam 45% da população. Embora redes de municípios menores possam ser relevantes, por exemplo, para a eleição de um deputado federal, aqueles com mais de 200 mil habitantes em geral projetam mais suas lideranças e têm mais recursos.

O PT chegou a vencer 28% das cidades maiores em 2008, ficando com algo em torno de 24% delas nas eleições municipais de 2004 e 2000. Em 2012, já mostrara algum desgaste no poder: vencera 19%.

Quem mais se destaca nesse grupo de municípios é o PSDB, partido que mais ocupou o vácuo do PT. Os tucanos venceram quase 24% dessas cidades. Dos dez maiores partidos, é o com mais presença relativa nas cidades maiores que nas menores.

Os demais partidos relevantes da "direita" (com mais de 5% da Câmara) não tiveram sucessos impressionantes, se algum. O PMDB mal cresceu, assim como o PP. O número de prefeituras de PR e PSD aumentou 9%. Mas PP, PR e PSD vencem bem mais nos grotões. A catatonia do DEM dura mais de uma década.

O tão falado PRB de Marcelo Crivella ficou com 2% das prefeituras e apenas 3,8% dos votos (ante 17% do PSDB ou 14,5% do PMDB). O bispo venceu uma eleição estrambótica no já quase sempre esdrúxulo Rio de Janeiro, onde as ideias de esquerda e direita são as mais borradas das grandes metrópoles.

Quanto à fragmentação: sim, há mais partidos com prefeituras, mas não é bem assim que se mede a coisa. No cálculo que leva em conta o peso dos partidos, a fragmentação mal se mexeu de 2012 para 2014. Nas maiores cidades, porém, cresceu bem tanto em relação a 2012 quanto à média de 2000-2008.

Em suma, o espólio do PT não serviu para criar força maior na "direita" além de dar mais musculatura ao PSDB.
É um sinal para 2018? Aqueles que ocupam o poder federal ou tiveram vitórias em 2016 surfam mais uma onda de negação que um projeto nacional ou uma esperança alternativos.

Ocupam o espaço de um quase condenado à morte, o PT. Estarão de resto no comando de governos quebrados ou manietados pela crise, sob desemprego altíssimo. Por ora, parecem mais um caso de "não tem tu, vai tu mesmo".


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