Folha de S. Paulo


Os juros ainda sobem

Alan Marques/Folhapress
Presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)
Presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda reunião do Copom anterior à redução da Selic

Os juros de curto prazo subiram para o maior valor em um mês (taxa real para um ano), na praça do mercado. As taxas mais longas ficaram mais ou menos onde estavam.

Na prática, a política monetária ficou um tico mais apertada desde junho, quando assumiu a nova direção do Banco Central, ora presidido por Ilan Goldfajn. Os juros dos títulos públicos de longo prazo vêm em tendência de baixa.

O BC conseguira desarmar a tendência de baixa com a decisão de reduzir a meta para a Selic em apenas 0,25 ponto, na quarta-feira passada. Nesta terça-feira (25), convenceu recalcitrantes com a divulgação da sua exposição de motivos da decisão, também conhecida como ata do Copom.

Em suma, o BC desautorizou com atos e palavras as expectativas baixistas do mercado, expectativas registradas nas cotações do preço do dinheiro, entenda-se.

E daí?

Daí que por enquanto é improvável uma redução maior que 25 centésimos também na próxima e última decisão do BC sobre taxa de juros, no dia 30 de novembro. Também improvável, por enquanto, uma redução mais rápida de juros no ano que vem.

Dois meses de atraso e meio ponto de taxa de juros para mais ou menos decerto não vão determinar o que vai ser o crescimento da economia em 2017.

Mas a perspectiva de retranca continuada do BC não contribui para mudar a projeção de que esta retomada da economia será lenta. De que a economia vai praticamente ter de sair do chão puxando os próprios cabelos. A não ser que a parte mais imponderável do ânimo de consumidores e empresários surpreenda.

Como já se disse tantas vezes, o Banco Central espera ver para crer que a inflação vai declinar de fato. Espera:

1) uma queda mais acentuada da inflação do setor de serviços (em suma e no final das contas, que sobrevenha uma contenção de salários no setor);

2) ter ainda mais segurança de que haverá controle do crescimento de despesas do governo. Isto é, aprovação do "teto" e, talvez, perspectivas boas de aprovação de reformas da Previdência, embora tal coisa não seja nem insinuada na exposição de motivos do BC.

Até o final de novembro, não haverá novidades seguras a esse respeito, inflação e ajuste fiscal. Saberemos da inflação de outubro e prévias de índices de preços de novembro. Dada a conversa da ata do Copom, será preciso uma surpre- sa desinflacionária muito grande para que o Banco Central mude de opinião.

As perspectivas do ajuste fiscal ainda estarão limitadas à tramitação do "teto" de gastos. A única notícia diferente que pode vir daí é negativa e catastrófica –o "teto" cair.

Há economistas para quem o desemprego grande, a retomada lenta da economia e a própria dureza do BC até quase o final do ano vão permitir uma aceleração da queda dos juros no início do ano que vem. Isto é, que recessão esticada e política monetária apertada vão fazer com que as expectativas de inflação caiam mais rápido.

Pode ser. Por ora, os sinais de terra à vista, de ilhas de retomada da economia, existem, mas continuam embaçados, nebulosos e distantes.


Endereço da página: