Folha de S. Paulo


Apesar de redução do Banco Central, juros sobem no mercado

Fernando Frazão/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 24-07-2012, 10h00: Fábrica de matrizes e cédulas da Casa da Moeda do Brasil (CMB), em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Processo de fabricação e itens de segurança das cédulas da nova família, em especial as notas de R$ 10 e R$ 20, lançadas na última segunda-feira (23), em Brasília, pelo Banco Central. (Foto: Fernando Frazão/Folhapress, FOTO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Fábrica de matrizes e cédulas da Casa da Moeda do Brasil (CMB)

Os juros subiram na praça do mercado no dia seguinte ao da decisão do Banco Central.

O BC reduziu a "taxa básica", a Selic, em apenas 0,25 ponto percentual, nesta quarta-feira. O pessoal do mercado estava preparado, em teoria e prática, para acomodar queda de 0,5 ponto. Jogara as taxas para baixo, "por conta".

Mas o Banco Central como que disse "não, obrigado, ainda não" (é sarcasmo), "devagar com o andor" porque a inflação é de pedra e as contas do governo ainda são um mingau de barro.

Além de expressar tais ideias por meio do corte mínimo, o pessoal do BC afirmou ainda textualmente que: 1) Não vê baixa bastante na inflação do setor de serviços; 2) Espera outros sinais de que as contas do governo vão entrar em ordem.

Isto é, a imposição de um teto constitucional às despesas do governo federal. Ou sabe-se lá o que mais.

O "teto" pode ser aprovado na Câmara antes da próxima decisão do Copom (30 de novembro), mas não no Senado. Crucial para o sucesso do "teto", nem fumaça haverá da tramitação da reforma da Previdência.

Mas pode ser que a economia continue tão deprimida que os preços caiam mais que o previsto. Que sobrevenha até uma baixa de preços de alimentos, que contribuíram para estourar as previsões mais otimistas para o IPCA deste 2016.

O BC quer ver para crer.

No fim das contas, esse 0,25 ponto percentual não vai fazer lá diferença. Não vai pesar no final de 2017, digamos, que o BC não tenha talhado a taxa de juros agora em meio ponto percentual.

Espera-se porém que o BC não venha a errar na dose de cautela, porém, estendendo sem mais o arrocho até entrado o ano de 2017, que tende a ser de crescimento econômico fraco, de quase qualquer modo. Mas 2018 não precisa ser assim; não há quase outro combustível para reaquecer a economia.

Sim, não se espera que, depois de anos de tolerância com inflação, com as contas do governo em ruína revoltante, que qualquer Banco Central ponha as coisas a perder por não querer esperar seis semanas. Mas excessos de política monetária também custam caro.

O RISCO DE CUNHA

O governo de Michel Temer acredita que vai conseguir mostrar, na semana que vem, que são exagerados os riscos de confusão política devidos à prisão de Eduardo Cunha.

Para dar uma forcinha nesta fé, vai fazer pressão extra para que ainda mais deputados votem a favor do "teto" para os gastos federais.

Não querem que fique a impressão de que Cunha tem algum poder de chantagem, tirando uma dúzia de votos pelo "teto".

No mais, o pessoal do Planalto considera que, com ou sem prisão de Cunha, há havia um número considerável de parlamentares "sob tensão" (risco de cadeia futura).

Para registro, diz além do mais que não há preocupação quanto a "fatos" que possam atingir o centro do governo ("fatos" da Lava Jato). Pode haver "vazamento de boatos", mas as conclusões de "investigações sólidas" ainda estão distantes.

No entanto, acredita que o risco de Cunha falar aumenta o incentivo para que outros enrolados na Lava Jato delatem já, por medo de perder a oportunidade, dado o supostamente amplo fichário de sujeiras que Cunha teria a oferecer, apequenando as demais delações.


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