Folha de S. Paulo


Temer e os zumbis

Agosto será o mês do grande desgosto, dizem procuradores de Curitiba. Nesse mês haveria mais "carne" nas grandes delações da Lava Jato, que já vazam óleo bastante para vir causando incêndios desde maio e, a partir deste final de semana, provocar explosões.

A julgar pelo padrão de delações anteriores, não vai ser apenas em agosto ou setembro que se vai abrir o embrulho completo das confissões da Odebrecht, por exemplo. A sujeira deve vir aos borbotões.

Gente graúda da praça financeira começa a discutir a possibilidade de fim do governo, com apreensão. Como é meio óbvio, consideram que novas eleições seriam um estorvo para a economia. Pior ainda seria a falta de alternativas "organizadas" de candidaturas, seja em 2017 ou 2018: a "incerteza dentro da incerteza".

A incerteza na incerteza mais imediata, porém, é sobre os efeitos dos novos escândalos no Congresso. É também por isso que o governismo interino se apressa em aprovar a deposição final da presidente afastada. Mas essa seria apenas a garantia de que não haveria mais Dilma Rousseff, não de que haveria Michel Temer.

Uma hipótese chamada de "otimista" é que os caciques atingidos resistam como zumbis comportados, não mordam Temer, "business as usual".

O zumbi brasiliense resiste indiferente ao efeito repulsivo do espetáculo da sua putrefação e é capaz de angariar apoio e, pois sobrevida, com chantagens, agora ou depois, com uma delação. Faz quase uma década, trata-se de atitude cada vez mais disseminada no Congresso. Tornou-se mais descarada nos anos Lava Jato. Atingiu por assim dizer o estado da arte com Eduardo Cunha, um herói e campeão da categoria, que pauta moda.

Ameaçados de levar tiros nas cabeças, os zumbis vão manter a frieza, tocando a pauta de Temer no Congresso? Além do mais, qual o risco de Temer ser ele mesmo atingido? Enfim: qual o grau de resistência do governo Temer ao tumulto?

Esse é o dado que donos do dinheiro grosso e seus operadores tentarão estimar nas próximas semanas, problema que, entretanto, já vai nublar o ambiente. Mas não há intenção de desistir de Temer enquanto o presidente, interino ou não, for capaz de sustentar sua equipe econômica e seu plano (por ora intenções).

Isso não quer dizer que essas pessoas estejam envolvidas em movimentos políticos ou mesmo em conversas efetivas, práticas. A maioria enorme não está; de resto, há grandes rachaduras, divergências e distanciamentos nas elites. O empresariado envolvido ou próximo de articulações políticas é quase todo ele muito evidente. No entanto, os distantes sempre podem fazer um ou outro sinal em público. Estão fazendo: é pró-Temer, desde que Temer seja equivalente a um programa econômico de ajuste mínimo.

As expectativas, porém, são reduzidas, não apenas pela dificuldade de produzir grandes mudanças no curto prazo de dois ano e meio ou pelo temor de que os décimos de despiora do PIB se esfumacem com a volta do tumulto político intenso.

Pergunta-se como será possível governar o país com um sistema político despedaçado e fragmentado em dezenas de partidos que são meros bandos de negocistas ou criminosos.


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