Folha de S. Paulo


Alguma esperança, pelo menos

A esperança de dias menos sofridos na economia cresce muito devagarzinho desde dezembro, mas parece crescer de modo inequívoco, indicam as pesquisas.

Na realidade, a economia afunda para seus piores resultados em uma década ou décadas.

Ainda assim, as estimativas são de que a coisa pare de piorar em algum momento do segundo semestre –é o que esperam os maiores bancos do país, por exemplo. Note-se que tal previsão vinha desde o início do ano, com ou sem Dilma Rousseff. Isso quanto ao ritmo geral da economia –o desemprego deve crescer por meses ainda.

A novidade de maio foi o salto mais animado das expectativas de consumidores e empresários, provocado pela esperança de que a troca de governo deixe a crise para trás, segundo os economistas responsáveis pelas pesquisas de opinião que medem a confiança.

O Índice de Confiança do Comércio da FGV subiu para o melhor nível desde junho de 2015. A expectativa quanto ao futuro não é pessimista pela primeira vez desde dezembro de 2013, registra parte do Índice de Confiança do Consumidor da FGV. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, da CNI, não era tão alto desde o início de 2015.

No entanto, ainda teremos o dissabor de verificar que continuamos nas profundas nesta quarta (1º), quando sai o PIB do primeiro trimestre. São números velhuscos, é verdade. Porém os indicadores e indícios mais recentes a respeito de crédito e salários não negam o desastre.

O ritmo de redução do crédito bancário ainda acelera –o total de dinheiro emprestado caiu 6,1% em um ano, até abril. O total de rendimentos do trabalho cai um pouco mais devagar, mas baixa 4,1%. O consumo de varejo desce de mãos dadas com crédito e rendimentos.

O governo não tem nem terá como fazer que os bancos estatais compensem a retranca dos bancos privados ou tapem com empréstimos o buraco deixado pela baixa enorme nos salários.

O governo fez tal coisa em 2008 e 2009 (quando os salários despencaram); deu relativamente certo. Fez tal coisa loucamente em 2013, quando os bancos privados se retraíram, embora nem crise desatada houvesse. Em meados de 2013, o crédito nos bancos privados encolhia um pouco; nos públicos, crescia a 21% ao ano, uma demência de divergência.

O governo enfim apenas conseguiu produzir inflação, distorções e um aumento brutal do endividamento, motivos importantes da presente desgraça.

O que se pode esperar, então (estamos falando aqui só de curtíssimo prazo, até o fim do ano)? O crédito não vai bulir muito no mundo real. A esperança, no entanto, é que, com a confiança em alta, aumente a procura de crédito.

Mas isso tudo é muito pouco e pode se quebrar, caso se instale outro tumulto radical na política e/ou os povos dos mercados achem que a política econômica de Michel Temer esteja sem rumo. Assim, a esperança iria pelo ralo.

Para manter a animação tímida de sobreviventes de furacão e terremotos, vista em maio, seria preciso que o governo demonstrasse capacidade de dar rumo de médio e longo prazos à economia e, assim, de baixar logo e muito as taxas de juros.

Tropeços do governo e novos jorros de imundície política podem nublar de novo o ambiente.

vinicius.torres@grupofolha.com.br


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