Folha de S. Paulo


Degradação extra no bananal

A Suprema Corte do país discutia na noite de ontem se os deputados federais deveriam votar o impeachment de Dilma Rousseff em ordem alfabética ou na desordem de mais uma das chicanas de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, talvez futuro vice-presidente, réu por indecências notórias. Bananal.

O entorno de Michel Temer, vice talvez quase presidente, discutia por estes dias como deve ser o "formato" do novo ministério. Gabinete enxuto, metade dessa inutilidade perniciosa montada por Dilma Rousseff? Como combinar "notáveis" com nomeações infames para pagar os votos pró-impeachment e a maiorias para aprovar projetos do virtual futuro governo? Bananal.

O moribundo e putrefato governo Dilma 2 terminava ontem de fazer as contas sobre o estouro das contas de 2017. Trata-se de fantasia ao quadrado, pois os economistas de Dilma 2 erram grosseira e sistematicamente todas as projeções de dinheiro e mal controlam o serviço de cafezinho, que dirá votos para aprovar o que seja no Congresso.

Estimam para 2017 um buraco, deficit primário, equivalente a 1% do PIB. Economistas do setor privado chutam, por baixo, que o rombo deve ser de pelo menos 1,6% do PIB. Boas casas do ramo de previsões acreditam em deficit de 2% do PIB.

Caso não se restaure a perspectiva de controle do deficit, iremos a uma breca que deixará saudades da atual ruína. No entanto, ainda parece haver quase um conluio nacional para promover o desastre, do Congresso ao Supremo, passando pelas elites impichistas e outras mais, para quem "pedaladas" e dívida descontrolada são ficções de "nerds".

Faz menos de um mês, esta Câmara dos Deputados que talvez dê apoio de 80% à deposição de Dilma Rousseff votou pelo estouro adicional da despesa, aprovando vinculações ainda maiores da receita de impostos a gastos com saúde -80% dos deputados votaram a favor da bondade doidivanas.

Os deputados querem aprovar o aumento de servidores proposto por Dilma 2. Juntaram-se à "voz das ruas", PMDB e PSDB à frente, contra mais impostos. Querem perdoar dívidas dos Estados (a serem pagas, claro, pela União). É o plano de governo do apocalipse. No entanto, esta, por ora, é a coalizão de Michel Temer.

O Supremo, por sua vez, piscou graciosamente para a ideia de recalcular as dívidas estaduais com base na ideia jeca e anacrônica e louca de juros simples. Faz pouco, decidiu que não se pode revogar aumento salarial de servidor estadual definido em lei, "direito adquirido". Se não houver dinheiro? Fechem-se hospitais e escolas. Espera-se o dia que os tribunais decidam que a escassez é inconstitucional, assim como a ideia de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.

Com Temer, espera-se que o partido-mor da boquinha e de outras bocas sujas, o PMDB, venha a se travestir de puro espírito público coberto de lantejoulas de rigor orçamentário, sendo secundado pelos partidos do "centrinho" do inferno da locupletação, em especial o PP mensaleiro e petroleiro.

Não que um zumbi de Dilma Rousseff venha a dar em coisa melhor. Mas eram essas as impressões que ficavam das cenas extras de degradação bananal da quinta-feira do pré-impeachment.


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